sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pequenas grandes memórias

 Quando você tem amigos que te entendem, é outra história. Ou melhor, outras histórias.








Lembro quando a Ligia Louback Menezes​, ainda nos tempos de solteira, me repassou o "Farewell", livro póstumo de Carlos Drummond de Andrade. Diante da minha estupefação com tal gesto - alguém não fazendo questão de ter o bom velhinho na estante - ela se saiu com essa: "Ah, têm livros que fazem mais sentido estar na estante de outras pessoas". Sensacional.

Pois quando ela se juntou com o Alexandre Menezes​ a coisa só evoluiu. Há alguns anos eles me deram de presente de aniversário um notebook de papel. "Pra quem gosta de escrever, acho que esse é o presente ideal" disse o Alexandre, vulgo Mais Hein. E era. Olhar aquelas páginas macias (e intactas) envoltas numa capa dura em edição elegante só comprovou como esse casal acerta no alvo na hora de me fazer uma festa.

Ainda levou tempo para eu decidir o que escreveria ali. Diante do carinho do gesto e do nível do objeto, não podia ser qualquer coisa. A classe do notebook não me permitia ser mesquinho. Até que chegou o dia: aquelas páginas seriam o lugar de registro dos projetos que emergiam dentro de mim mas cuja única vazão ainda se daria apenas no papel (depois dos ouvidos da Carol e também os da minha psicanalista).

Na primeira foto está a primeira anotação, na primeira página, explicando o propósito:

DO LIVRO - 07/10/2011

Ganhei este notebook (original. Até então só conhecia o computador) do Mais Hein e da Ligia. Nele vou desabafar todos os meus projetos, sem saber ao certo se, quando, como e aonde vão se realizar. Mas o que importa é que são honestamente meus.

A demanda estava reprimida, no mesmo dia descrevi vários projetos. E um deles foi este, que a segunda foto traz:

BIOGRAFIAS

Escrever é a minha paixão. Quando assisti a um debate super bem-humorado com Ruy Castro e Sergio Cabral (pai), me identifiquei. Por que eu não poderia escrever biografias? Me senti do mesmo jeito que, há anos, li Fernando Sabino e me perguntei sobre escrever crônicas: por que não?

Bom, de lá pra cá José Mujica foi eleito presidente do Uruguai e o resto vocês já sabem.

Mas o que muitos talvez não conheçam é essa pequena grande memória que me enleva e me faz agradecer ainda mais a Deus pelos amigos que encontrei na vida. E como esses encontros nos trazem frutos com os quais a gente às vezes nem consegue imaginar - por mais que você goste de contar histórias via escrita.


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