sábado, 23 de maio de 2015

Bastidores de um lançamento


 "Você tá nervoso, né?", disse minha esposa no domingo à noite, véspera do lançamento de "Mujica: o presidente mais rico do mundo", meu livro de estreia. Tava, um pouco. Mas não no dia seguinte, que correu rápido. Logo já era hora de me arrumar e pegar o metrô rumo a Botafogo. Pela primeira vez na vida entrei numa livraria não como curioso, leitor ou estudante - mas como autor.


O primeiro impacto se deu depois de uns poucos passos. Lá estava o livro, em pilhas, destacado atrás do caixa. Se já me emocionei ao vê-lo no site das livrarias, não sei descrever o que senti ao vê-lo ao vivo, disponível pra compra ou consulta de todo mundo que entrasse. Comecei a imaginar as vitrines de outras livrarias, agora espelhos.

Poucos minutos depois chegou a orelha do livro. Isto é, quem a escreveu: o ilustríssimo Maurício Santoro, cientista político, ex-Anistia Internacional, professor da Uerj e figurinha fácil na Globonews para explicar esse mundo complicado em que vivemos. Uma das melhores coisas que o livro me proporcionou foi conhecer o Maurício, que desde que fiz o primeiro contato via Facebook foi super receptivo, leu o texto em primeira mão num fim de semana e me devolveu uma orelha bonita.

Logo chegaram minha mãe e minha irmã (que fez minha foto na outra orelha). Papo vai, papo vem, mais gente chegando. Vi o Marcus, que estudou comigo no Colégio Pedro II, outro reencontro proporcionado por Mujica, depois de quase 15 anos.

Era hora de começar os trabalhos. Enquanto caminhava para a mesa, fui abordado por um casal super feliz que já conversava com minha mãe: dona Niva e seu marido (infelizmente, esqueci o nome dele). Visitaram o Uruguai na época das últimas eleições presidenciais e entraram na onda, fazendo campanha para o candidato da Frente Ampla, partido de Mujica. Porém o melhor estava por vir: eles têm um filho chamado... Marco André Lessa. Quando viram a nota no jornal falando do lançamento, não pensaram duas vezes. Um dos primeiros autógrafos foi "Ao meu homônimo", a pedido da própria Niva.

A fila se formou e lá estava eu com a Bic velha de guerra em punho. Carolina, minha esposa, resolveu se afastar da mesa e depois me explicou o porquê. Quando viu a cena do marido ex-leitor-agora-autor se emocionou demais e não ia segurar o choro...

Cada rosto à minha frente se iluminava de um jeito singular. Os amigos não precisavam dizer o quão felizes estavam, me deixando nas nuvens. Chegou mais família com orgulho transbordando. Conhecidos de antigamente surgiam do túnel do tempo com um sorriso. Gente que soube pelo Facebook ou pelos jornais estendiam o livro com prazer - peguei carona no fã-clube de Mujica.

Conheci o Joseph, que estuda Relações Internacionais e cujo foco é América Latina. Conheci os parentes do Roberto (que é uruguaio e não pôde ir): brasileiros mas com dupla nacionalidade, foram ao Uruguai ano passado e pela primeira vez tiraram o título de eleitor lá, só pra votar em Tabaré Vázquez. Conheci o Jonn, um anarquista (que acha que Pepe é da mesma corrente política) com sotaque de Henry Sobel.

Teve mais: quase no apagar das luzes conheci o Anibal, um biólogo uruguaio que estuda cobras venenosas. Mora há 30 anos em Niterói e veio de lá apressado, com medo de não dar tempo de levar os exemplares dele e da irmã, Rosario. Aos 47 do segundo tempo surge o Adriano Caldas, da minha turma de jornalismo da UFF, que nunca falhou com os amigos. A mesma cara e a mesma atitude positiva! Outro que não via há séculos.

O dono da livraria já ia começar a lavar o chão quando resolvemos partir. Sinal de que veio bastante gente, foram quase 3 horas autografando, tirando fotos, abraçando a todos, vivendo esse momento lindo. Mais um episódio pra conta do Mujica.

Depois de um chope pra encerrar a noite, percebi que ela era a única coisa que acabava. Se o livro  nascia oficialmente, minha carreira literária idem. Senti o mesmo que uma borboleta olhando pro velho casulo. Já era. Ou melhor, ainda há de ser muita coisa.

Chegando em casa, miro um ímã de geladeira que veio da Bahia. É a foto de Jorge Amado olhando pro horizonte, sereno, acompanhado de uma frase sua: "o escritor é um aprendiz de seu ofício até que deixe de escrever". Captei a mensagem, que espero jamais esquecer.

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