terça-feira, 14 de julho de 2015

Que mané queda da Bastilha!

Hoje era dia de vó. Eu fico muito, mas muito feliz de num dia como esse (e em tantos outros, como em sonhos à noite) só ter boas lembranças dela. De temperamento difícil e com diversas limitações para viver uma vida plena que estava ao seu alcance, Sillas era a vó que tinha nome de vô. Tivemos muitos embates, e por vezes queria tanto aproveitar melhor a sua companhia, mas ela não deixava, Freud explica.


As dificuldades naturais da adolescência não ajudavam muito nesse quadro. No fundo, acho que minha avó nunca se deu conta dessa realidade. Mas à medida que a maturidade chegava eu ia me adaptando e conseguindo desenvolver uma conexão toda especial com ela. Meu esmero nesse sentido foi se refinando, se refinando, até que um dia cheguei a um "equilíbrio químico": vó, pode continuar com suas idiossincrasias que eu já sei como levar e poder te curtir. Tendo chegado nesse ponto, muita coisa que me irritava de repente passou a me divertir - e, meu Deus, como isso foi bom.

Mas foi curto. Não há o que aliviar nesse sentido. Quando descobri a fórmula de conviver e abraçar minha avó, chegou um certo novembro de 2011. O choro era mais da perda do que poderia vir do que pelo que de fato estava perdendo. Quem estava lá no dia e me viu, viu.

O que ficaria dentro de mim diante da ausência? Os tempos difíceis e teimosos ou os momentos felizes da arte do encontro?

É bom constatar que ficou o álbum de figurinhas da Copa de 2010, os mil pacotinhos que ela comprou para um galalau de 30 anos, as centenas de fotos de jogadores que a maravilhavam em cima da mesa.

Ficou a leitura de jornal depois do almoço de frente pra varanda, com o vento da tarde e a voz dela dizendo "que fresquinho bom!".

Também ficou cada carinho e cafuné feito com a ponta da unha desde a infância, que me fez ter o primeiro pensamento cibernético da vida: "bem que podia ter uma máquina com a mão igual da minha avó, pra eu receber esse carinho sempre que eu quisesse!".

"As coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo". E o novo, mesmo curto, dura eternamente. O 14 de julho me lembrou dessa revolução.

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