sábado, 28 de junho de 2003

Varre, vassourinha...

Imagine que você tire uma semana de férias. Ao voltar pra casa, as ruas da cidade e a calçada de sua casa sumiram! Você nao consegue enxerga-las, e para pisar ao chao é preciso coragem e uma greve ao nojo. O lixo cobre cada centimetro do asfalto. Ao se informar, você descobre que os garis fizeram greve exatamente nessa semana que você viajou.

Nao sei quanto a você, mas so ha pouco tempo percebi a importância dos garis para o bem-estar da nossa sociedade. Sao eles que recolhem tudo o que nao queremos mais, limpam diariamente as ruas, convivendo com o mau cheiro caracteristico dos dejetos. Nao fossem eles, seria possivel agüentar a situaçao descrita no primeiro paragrafo?

Além disso tudo, os garis s?o os profissionais mais democraticos e sem preconceito que existem: recolhem o lixo dos bem-educados (que comportam tudo em sacos plasticos à beira da rua) e dos mal-educados (que tratam o espaço publico pior, bem pior que a sua casa. Talvez sabendo que os garis ali estar?o para fazer o trabalho sujo).

A maior das injustiças foi flagrada nessa semana, na cobertura ou nos comentarios sobre as inscriçoes para o emprego de gari no Rio de Janeiro. A tônica das reportagens era abordar o problema do desemprego no pais. Para uma vaga em que o 1o. grau completo bastava, encontrava-se nas filas (imensas!) varios candidatos com ensino superior completo, que nao tinham conseguido emprego em suas areas.

Onde esta a injustiça? O fato das matérias serem pagina inteira, estarem no jornal local ou no nacional refletem um pouco do preconceito em relaçao à profissao que nao tem preconceitos. O choque, respaldado pela entonaçao dos locutores ou pelos depoimentos coletados, nao era por aquela massa de gente estar desempregada. Mas pela massa querer um emprego... de gari?????

Era nitida a reaçao de cada pessoa – de nojo, de nervoso, de preconceito mesmo – em nao aceitar que as pessoas procurassem um emprego “como aquele”. Por quê? Por mexer com lixo? Isso so da mais dignidade à profissao, que coragem a dos garis!

Mas o preconceito trata de querer intimidar os garis. Quem aqui fala, com o mesmo desprendimento, que procura emprego de lixeiro ou que tem um parente nessa profissao? Sempre nos sentimos constrangidos a tal. Ora, que me perdoem os frescos de plantao, mas os garis sao profissionais dos mais essenciais para o bom andamento desse mundo. Alguém discorda?

Portanto, ao avistar um gari na rua, dê um sorriso como se estivesse dizendo: “precisamos de você, soldado. Nao deserte!”. Ele merece o nosso reconhecimento. E façamos a nossa parte no maior exemplo do “façamos a nossa parte”: nao jogue lixo no chao...


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