quinta-feira, 10 de julho de 2003

Legitimando o (meu) discurso

Transcrevo aqui um texto do site www.caiofabio.com que tem a ver com o artigo da semana passada sobre o preconceito para com os garis. Ainda tinha uma entrevista com o sociólogo, mas aí esse post ia ficar muito grande.

Afinal somos rótulos, objetos, funções sociais, papéis na sociedade, papéis na organização ou seres humanos em nossa plenitude?

"Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da "INVISIBILIDADE PÚBLICA". Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a FUNÇÃO SOCIAL do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social. O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome".

Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da "invisibilidade pública", ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.

Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida: "Descobri que um SIMPLES BOM DIA, que nunca recebi como gari, pode significar um SOPRO DE VIDA, um sinal da própria existência", explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um OBJETO e não como um SER HUMANO. "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado-se em um poste, ou em um orelhão", diz. Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo são acolhedores com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.

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