quinta-feira, 17 de julho de 2003

Marta Suplicy 2012 manda no jornalismo carioca

AH, SOU CARIOCA! Como é bom dar esse grito agora que o Rio foi escolhido pra ser a sede das Olimpíadas 2012! Perdão, ele é candidato a candidato ainda. É que com essa cobertura da mídia, eu me empolguei... Mas comemoremos! O melhor de tudo é que, num passe de mágica, de uma hora pra outra, por um fenômeno sociológico ainda não detectado e devidamente estudado, a “onda de violência” 2003 quebrou nas praias da orla olímpica.

Onde está a “Guerra do Rio” que o GLOBO alardeava em primeira página? E a taxativa “Guerra Perdida” que o JB teimava em botar em caixa alta? Acabou, acreditem. O crime no Rio reduziu tanto que só ocupa a primeira metade da penúltima página do primeiro caderno. Quem lê a primeira metade da penúltima página do primeiro caderno??

Em compensação, o Rio tornou-se a cidade ideal para os Jogos Olímpicos. A capital de um estado quase falido, por meio do “gênio do mal” Cesar Maia, possui verbas, verbas e mais verbas para construir estádios, reformar complexos esportivos. De onde sai tanto dinheiro? Como há tanto dinheiro? E olha que o povinho “desculturado” do Rio esnobou o Guggenheim...

Segue o processo de elitizar ainda mais a Barra. Afinal, lá vai ser a Vila Olímpica, por ali as favelas não ameaçam tanto, e todo o reforço de segurança vai pra lá – tudo pelas Olimpíadas! É o apartheid social agravado, dessa vez de forma oficial, escancarada e utilitarista – tudo pelas Olimpíadas!

Mas o que eu estou abismado é que a violência no Rio diminuiu tanto... Agora eu já posso ir ao cinema à noite, já posso passar pela Av. Brasil sem medo. Medo? Isso é coisa que colocaram na nossa cabeça, pelo visto. Pelos mesmos órgãos de imprensa que hoje dizem o contrário, mesmo que para isso não precisem dizer nada – é só tirar das primeiras páginas, deixar de associar crimes isolados com uma “onda” tão ocasional e previsível nas coberturas de mídia quanto a SP Fashion Week.

Esse flagrante de mídia deve ser creditado a quem de direito: Marta Suplicy. Foi ela que, num desespero em defender a candidatura de Sampa 2012, disse que o Rio era mais violento. Foi o suficiente para que o bairrismo da mídia carioca vencesse a necessidade de atemorizar os leitores além da conta. Hoje, ao lado da matéria de página inteira do Globo com o prefeito e a pseudo-governadora unindo esforços para 2012, uma comparação de que Ipanema teria um índice de desenvolvimento humano (IDH) maior que a Noruega. E um bairro rico da Noruega, também perderia pra vizinha do Leblon?

Enquanto isso, vou ficar torcendo pro Rio pois, como disse o Casseta e Planeta (o campeão de citações desse blog), “conquistamos o direito de sonhar com uma possibilidade de, talvez, um dia, quem sabe, ter uma chance de sediar os Jogos Olímpicos de 2012”. Ah, também vou procurar uma imprensa alternativa.

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