Êxtase cultural: a Disney morreu, ao contrário do bom cinema nacional
A gente reclama de gastos extensos com nossas necessidades básicas, mas há momentos em que o dinheiro é muito bem gasto. Não apenas pra manter a saúde, a boa alimentação ou o sustento educacional como também o consumo, em doses cavalares, de alto nível cultural. "Procurando Nemo" e "Lisbela e o prisioneiro" estão nos meus receituários.
A história do peixinho Nemo é mais um sucesso da Pixar, a empresa responsável pela revolução gráfica nos desenhos animados do cinema. Desde "Toy Story" eles exploram a metáfora do mundo adulto por meio de outros universos conhecidos – como brinquedos, formigas etc. Embora as crianças sejam o público-alvo, a linguagem utilizada alcança qualquer idade. E não só a linguagem, como bons roteiros e cada personagem, dos divertidos aos mais tocantes.
A fórmula agora é a seguinte: a Pixar é mão-de-obra dos desenhos, enquanto a Disney fica com o marketing e a distribuição. Ou seja: mérito todinho pra Pixar, melhor ainda por suplantar qualquer filme anterior da Disney. Seja em originalidade, criatividade ou até mesmo bom senso. Claro que cada filme a seu tempo, mas compare os antigos essencialmente produzidos e feitos pela Disney com os de hoje, nos quais ela apenas paga pra botar a marca. É covardia.
Um trailer de 1989 feito pela Pixar coloca o "Rei Leão" no chinelo. Cada vez menos clichês e cada vez mais valorização da inteligência da criança. Afinal, elas entendem (e riem de) todas as referências contemporâneas, como não? Ao contrário dos contos de fada politicamente corretos ao extremo, usam o mundo real para exercer suas qualidades gráfico-narrativas.
"Lisbela e o prisioneiro" é mais uma pérola de Guel Arraes, que tem no currículo "O Auto da Compadecida" e "Caramuru", além dos conceituados "Comédias da Vida Privada" e "TV Pirata". Dessa vez a mulher do Caetano bancou a produção e quis fazer um blockbuster brasileiro. Em entrevista, Paula Lavigne diz ficar feliz se conseguir "pelo menos dois milhões de espectadores"...
Ao contrário do que parece, isso não atrapalhou em nada a qualidade do filme. Os atores estão excepcionais, todos eles. Os argumentos, a uma velocidade já característica dos filmes de Guel. Figurinos e trilha sonora feitos sob medida completam a obra-prima. Já vi 3 vezes! (O próximo post será exclusivo sobre Lisbela, quando me alongarei mais sobre o filme)
Logo, é ótimo perceber que o bom cinema nacional ressurgiu de vez, e sem precisar apelar. É disso que o povo gosta, e não das baixarias justificadas por argumento semelhante no horário nobre. O mesmo vale pra Pixar, a verdadeira rainha dos baixinhos. Dêem-nos opções e saberemos escolher a boa parte. Quem tem medo (no caso, de perder audiência) é quem não se garante – e olha que isso a gente aprende no primário...
Nenhum comentário:
Postar um comentário