O Rio de Janeiro continua sendo
O medo dos cariocas é legítimo. Mas o que eu me pergunto desde o início dos ataques dos bandidos à cidade é: o que fazer a partir disso? Porque apesar de tudo, nossa vida não pode parar. E acabamos agindo sem pensar no que estamos fazendo, o que só potencializa a imobilidade pelo medo.
Diante dos atos de violência, as empresas estão liberando seus funcionários mais cedo. Qual a lógica disso, se os ataques aconteceram em diferentes horários do dia? Qual a garantia que não vão acontecer antes das seis da tarde? Ou mesmo às nove da noite?
A polícia recomenda que a população fique em casa nessa noite, por segurança. E o pessoal que mora em frente aos carros e ônibus estacionados que foram incendiados? Eles ficaram em casa durante o dia e não escaparam do ruído da explosão e da possibilidade de estilhaços em seus apartamentos.
Os fatos já são ruins por si só. Mas a reverberação deles, graças ao desenvolvimento e à mobilidade das tecnologias de comunicação, torna o medo onipresente. Até quem não passou por momentos de terror sente-se invadido pela sensação de segurança ao ver, ouvir, rever e "reouvir" os relatos.
Mesmo que não queira. Fui almoçar, lá estava a TV ligada mostrando tudo ao vivo. Minha esposa voltava da faculdade e teve que ouvir as TVs via celular (em tempo real) das pessoas ao lado. Abrir a primeira página dos portais de notícias é ver o "show" de imagens e transmissões em tempo real.
O que me lembra um artigo do amigo Rômulo Dias, jornalista e historiador, em que ele defende a tese de que o mundo nunca foi tão pacífico. Após relatar as guerras em outras épocas, e analisando o protagonismo da imprensa nos momentos de pânico coletivo, ele argumenta:
"Hoje, a escassez do modelo clássico de guerra faz com que não tenhamos as mesmas perdas humanas que tivemos no passado. Contudo, a sociedade em que vivemos sente-se mais insegura que aquela de outrora. A ameaça terrorista nos traz a perspectiva do perigo a qualquer tempo e em qualquer lugar. Civis ou militares, todos podemos pagar pelo mundo desigual e intolerante em que vivemos.
A lógica do terrorismo dialoga diretamente com uma proposta desestabilizadora. O terrorismo é inofensivo se não consegue gerar um sentimento permanente de pânico. Um ataque mata 15, 20, pessoas. No entanto, não é a potência do ataque que importa, mas a impossibilidade de saber onde e quando o mesmo irá acontecer.
A imprensa contemporânea é, dessa forma, um ator fundamental no sentido de colaborar com a atividade terrorista, esteja o terrorismo relacionado ao tráfico de drogas ou aos ataques orquestrados pela Al Quaeda. Queiramos ou não, a informação sempre chega às nossas casas nos dias de hoje. Os meios de comunicação nos obrigam a ter medo, mesmo que a morte seja improvável. Talvez, contraditoriamente, este mundo em que vivemos seja de uma paz sem precedentes."
Diante desse aspecto, em conversa posterior à publicação do artigo, ele defendeu que a imprensa não deveria fazer a cobertura dos ataques terroristas. Na sociedade do espetáculo tão bem prevista por Guy Dèbord, a realidade é vivida e sentida quando se revela na mídia. "O que os olhos não veem, o coração não sente".
E se o primeiro ataque não tivesse aparecido na TV? Se fosse solenemente ignorado por todas as emissoras e veículos de comunicação? Será que estaríamos tão aterrorizados? Provavelmente não.
Mas no mundo do fetiche da velocidade, expresso no jornalismo em tempo real (conceito definido pela professora Sylvia Moretzsohn), a notícia virou mercadoria. As prateleiras dos meios de comunicação não podem ficar vazias. Mesmo que seja pra termos ciência de informações importantíssimas para o destino da nação, como o fato de Claudia Leitte planejar ter quatro filhos.
Voltando ao ponto de partida: o que nós, cariocas, devemos fazer a partir desse medo institucionalizado? Primeiro, manter-se informado na medida da sanidade. Se você sabe que está ocorrendo um tiroteio em determinada avenida por onde você passaria, não passe. Aí sim, dê um tempo.
Mas se não há nada acontecendo, vá em frente. Não faça uma auto-prisão. Não podemos aceitar que o Rio de Janeiro seja uma cidade violenta e que estaremos sempre à espera do próximo pseudo-estado de sítio. O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo. Nossas vidas continuam, apesar da sensação de impotência.
Ou você vai começar a faltar ao trabalho? Vai deixar de sair com os amigos? Vai blindar a sua casa e pedir comida a domicílio? Não, ninguém vai fazer isso. Portanto, dá pra ter coragem quando a gente percebe os exageros das Cassandras.
E mais importante: cobrar de quem se deve. Critico Sergio Cabral e Duda Paes por suas decisões políticas, mas não serei idiota de negar os benefícios das UPPs. E que todo trabalho precisa começar por algum lugar, nem que sejam os trajetos de Copa e Olimpíadas.
Mas as perguntas que já estão no ar faz tempo são: e o resto das comunidades? E os bandidos que fugiram das UPPs? Que a Vila Cruzeiro, em pleno Complexo do Alemão, estava sendo o refúgio deles, até o carioca mais desligado já sabia. Que era uma questão de tempo que aquilo explodisse, idem.
A realidade é complexa, eu sei. Além disso, os aparatos do Estado não são suficientes (alô, alô, neoliberais: aquele abraço!). Mas os cidadãos cariocas precisam cobrar permanentemente de quem se dispôs a assumir o compromisso de ser uma autoridade pública. E para toda a cidade, não apenas para os de IPTU altíssimo.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Muito cedo, muito cedo
É preciso coragem para assistir ao documentário "Senna", que estreou nos cinemas sexta-feira passada. O filme mostra o herói sem esconder a faceta humana errática e vulnerável. E não só pelo final que todos nós conhecemos.
A relação de Senna com o Brasil era a de um imaginário que se tornava real a cada domingo, encarnado no cockpit de um carro de Fórmula 1. Em meio à "década perdida" na economia do país, lá estava o Brasil em primeiro lugar, ultrapassando as demais potências sem baixar a cabeça pra ninguém. E sem a arrogância de um Piquet ou um Schumacher, só o carisma com fome de vitória, de não querer ser sacaneado ou ficar pra trás.
O documentário de Asif Kapadia é de excelente qualidade. A narrativa é muito bem conduzida, há inúmeras imagens inéditas de bastidores e papos ao pé no ouvido nos boxes, além de entrevistas a TVs estrangeiras. A rivalidade com Prost e a guerra contra o sistema - encarnado na figura de Jean-Marie Balestre, presidente da Federação Internacional de Automobilismo - traz Senna para a trincheira dos oprimidos. Dos "Davis" contra o Golias de sempre. Tal um Capitão Nascimento, mas real e acompanhado ao vivo.
É claro que, para a bilheteria, o timing do filme é ótimo. Quem nasceu após a morte de Senna já tem idade para acompanhar F-1, e tem a chance de conhecer o que os mais velhos tanto falam desse Ayrton.
Mas para quem acompanhava o esporte e vibrava a cada Grande Prêmio, 16 anos ainda parece cedo demais. Vimos as imagens daquele fatídico fim de semana milhões de vezes. E cada replay, cada cobertura jornalística do acidente e suas consequências, era uma punhalada em nosso coração. A ferida ainda parece aberta no cinema em 2010.
Devido a essa sensação de que foi ontem que tudo aconteceu, fica difícil curtir a rememoração dos feitos de Senna do kart até a McLaren. Isso porque nos sentimos numa contagem regressiva até o inevitável. Todas as falas e pensamentos do tricampeão soam premonitórias demais, quase assustadoras.
Senna mostra que sabia dos seus limites. A evocação constante de Deus em sua carreira, além de uma confissão de fé pública e sincera, parece sublinhar que ele era humano, demasiada e honestamente humano. O permanente semblante compenetrado do piloto parece dizer à audiência o tempo inteiro: "Por que vocês acham que um campeão de F-1, ídolo mundial, estaria acima dos mortais? Ou seria imortal?".
O documentário atinge seu ápice ao mostrar um Ayrton Senna totalmente em conflito consigo mesmo no último final de semana de sua vida. Racionalmente, ele não queria correr. Mas sabia que devia correr, que sua vida não fazia sentido se ele desistisse. É como se estivesse numa missão para a qual foi predestinado, mesmo que isso envolvesse o sacrifício. A mensagem que ele diz ter recebido de Deus ao ler a Bíblia naquele domingo só confirma essa impressão.
Saí do cinema triste, pois é uma linda história com um final muito triste. E o diretor soube captar isso bem demais. No entanto percebo que o incômodo também existe porque, mesmo sem sermos pilotos de F-1, não sabemos nossa hora de partir. Que garantias temos, qual é o nosso "carro infalível"?
Não tenho outra opção a não ser voltar a Senna. A todo momento, ele olha para o Alto, busca e enxerga Deus, agradece a Ele pelas vitórias, reconhece Sua força e sua finitude. Não é piegas (como muitas matérias da TV aberta sobre o assunto fazem parecer). A 300 km/h, a confiança de Ayrton Senna estava nAquele que tudo pode.
Duvido que Senna tenha ficado "chateado" com Deus por encerrar sua vida aos 34 anos. Enquanto esse dia não chegava, ele dava o seu máximo, fazia o seu melhor, cultivava uma sensibilidade social - taí o Instituto Ayrton Senna pra provar - amou e retribuiu o amor de muitos.
É essa a lição que aprendo até o incógnito dia de minha última curva.
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses, 4:12-14)
"Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível" (I Coríntios 9:25)
É preciso coragem para assistir ao documentário "Senna", que estreou nos cinemas sexta-feira passada. O filme mostra o herói sem esconder a faceta humana errática e vulnerável. E não só pelo final que todos nós conhecemos.
A relação de Senna com o Brasil era a de um imaginário que se tornava real a cada domingo, encarnado no cockpit de um carro de Fórmula 1. Em meio à "década perdida" na economia do país, lá estava o Brasil em primeiro lugar, ultrapassando as demais potências sem baixar a cabeça pra ninguém. E sem a arrogância de um Piquet ou um Schumacher, só o carisma com fome de vitória, de não querer ser sacaneado ou ficar pra trás.
O documentário de Asif Kapadia é de excelente qualidade. A narrativa é muito bem conduzida, há inúmeras imagens inéditas de bastidores e papos ao pé no ouvido nos boxes, além de entrevistas a TVs estrangeiras. A rivalidade com Prost e a guerra contra o sistema - encarnado na figura de Jean-Marie Balestre, presidente da Federação Internacional de Automobilismo - traz Senna para a trincheira dos oprimidos. Dos "Davis" contra o Golias de sempre. Tal um Capitão Nascimento, mas real e acompanhado ao vivo.
É claro que, para a bilheteria, o timing do filme é ótimo. Quem nasceu após a morte de Senna já tem idade para acompanhar F-1, e tem a chance de conhecer o que os mais velhos tanto falam desse Ayrton.
Mas para quem acompanhava o esporte e vibrava a cada Grande Prêmio, 16 anos ainda parece cedo demais. Vimos as imagens daquele fatídico fim de semana milhões de vezes. E cada replay, cada cobertura jornalística do acidente e suas consequências, era uma punhalada em nosso coração. A ferida ainda parece aberta no cinema em 2010.
Devido a essa sensação de que foi ontem que tudo aconteceu, fica difícil curtir a rememoração dos feitos de Senna do kart até a McLaren. Isso porque nos sentimos numa contagem regressiva até o inevitável. Todas as falas e pensamentos do tricampeão soam premonitórias demais, quase assustadoras.
Senna mostra que sabia dos seus limites. A evocação constante de Deus em sua carreira, além de uma confissão de fé pública e sincera, parece sublinhar que ele era humano, demasiada e honestamente humano. O permanente semblante compenetrado do piloto parece dizer à audiência o tempo inteiro: "Por que vocês acham que um campeão de F-1, ídolo mundial, estaria acima dos mortais? Ou seria imortal?".
O documentário atinge seu ápice ao mostrar um Ayrton Senna totalmente em conflito consigo mesmo no último final de semana de sua vida. Racionalmente, ele não queria correr. Mas sabia que devia correr, que sua vida não fazia sentido se ele desistisse. É como se estivesse numa missão para a qual foi predestinado, mesmo que isso envolvesse o sacrifício. A mensagem que ele diz ter recebido de Deus ao ler a Bíblia naquele domingo só confirma essa impressão.
Saí do cinema triste, pois é uma linda história com um final muito triste. E o diretor soube captar isso bem demais. No entanto percebo que o incômodo também existe porque, mesmo sem sermos pilotos de F-1, não sabemos nossa hora de partir. Que garantias temos, qual é o nosso "carro infalível"?
Não tenho outra opção a não ser voltar a Senna. A todo momento, ele olha para o Alto, busca e enxerga Deus, agradece a Ele pelas vitórias, reconhece Sua força e sua finitude. Não é piegas (como muitas matérias da TV aberta sobre o assunto fazem parecer). A 300 km/h, a confiança de Ayrton Senna estava nAquele que tudo pode.
Duvido que Senna tenha ficado "chateado" com Deus por encerrar sua vida aos 34 anos. Enquanto esse dia não chegava, ele dava o seu máximo, fazia o seu melhor, cultivava uma sensibilidade social - taí o Instituto Ayrton Senna pra provar - amou e retribuiu o amor de muitos.
É essa a lição que aprendo até o incógnito dia de minha última curva.
"Não que eu o tenha já recebido, ou tenha obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses, 4:12-14)
"Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível" (I Coríntios 9:25)
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Aborrecendo toda vida
"Living is easy with eyes closed", ou seja, "Viver é fácil com os olhos fechados", diz a música dos Beatles. A cada dia vejo mais gente que adotou essa postura e que consegue sobreviver assim. Não no sentido de fazer vista grossa para o que surge, mas recusando-se a assumir responsabilidades, fechando os olhos para a chegada da vida adulta.
É o que estudos psicológicos já classificam como "adultescente". Aqueles que prorrogam a adolescência infinitamente, por alguma razão. Continuam morando com os pais, não se firmam em relacionamentos que possam virar uma nova família, portam-se como adolescentes no cotidiano de trabalho - rebeldes sem causa e querendo sempre estar satisfeitos.
Na lógica capitalista que rege nosso mundo, somos tratados como consumidores a todo momento. E quem não tem potencial de consumo é simplesmente excluído. O que era uma realidade socioeconômica se estendeu para o comportamento humano.
Não gostou do produto que adquiriu? Descarte ou troque por outro. Logo, logo você será tentado por desejos novos em folha, sempre a última moda. "Por que ser você, se você pode ser novo?", dizia o vilão do filme Robôs. Vivemos uma era de insatisfação permanente, que atinge todas as nossas facetas.
O sexo, os relacionamentos, a política, a economia, o bem-estar... Tudo é alvo de nossa insatisfação, que é devidamente cultivada. Afinal, se estivermos plenamente satisfeitos, qual a razão de continuar consumindo, querendo algo novinho?
"Os políticos são todos corruptos, a democracia não serve, era melhor no tempo da ditadura". É a insatisfação consumista na nossa cidadania. "O negócio é pegar todas, pegar várias, dar pra vários, colecionar performances sexuais". É a lógica predatória da competição capitalista invadindo (e banalizando) nossa sexualidade."Se não der certo, separa; o divórcio é cada vez mais fácil, os filhos se acostumam". É a redução dos compromissos à escravidão da satisfação nunca alcançável.
Nesse contexto é que estão os "adultescentes". O que é o adolescente senão alguém que não gosta de ser contrariado, não tem responsabilidade plena e que adora consumir de tudo, sem freios? Prorrogar a adolescência intere$$a a muita gente. Mas o que me deixa impressionado é que as pessoas estão vivendo dessa maneira, muitas vezes sem sequer sofrer consequências disso.
A geração dos meus pais foi criada sob o signo do esforço. Desde criança tinham que estudar, "ralar muito", trabalhar duro, conquistar as coisas com o fruto do suor deles. Na minha geração, há muitos que nascem no ar condicionado e espereneiam toda vez que sentem um calorzinho, ou quando precisam ter um mínimo de iniciativa.
Não raro as consequencias recaem sobre quem não embarcou nessa "adultescência". E em dobro: sofrem por serem obrigados a conviver com pessoas assim e por terem que arcar com as responsabilidades dos "adultescentes", além das que lhes cabem.
Aí vemos famílias, ambientes de trabalho, grupos de todo o tipo com essa dualidade permanente: gente que encarou o desafio da vida adulta e gente que vai procrastiná-lo o quanto puder. E o pior é quando os "adultescentes" encontram figuras de autoridade que se portam como "papai" e "mamãe", daqueles que relevam tudo o que o filho faz de errado, reforçando a condição.
E quando os filhos dos "adultescentes" chegarem à adolescência? Pode até ser uma vingança, mas não será uma solução.
"Living is easy with eyes closed", ou seja, "Viver é fácil com os olhos fechados", diz a música dos Beatles. A cada dia vejo mais gente que adotou essa postura e que consegue sobreviver assim. Não no sentido de fazer vista grossa para o que surge, mas recusando-se a assumir responsabilidades, fechando os olhos para a chegada da vida adulta.
É o que estudos psicológicos já classificam como "adultescente". Aqueles que prorrogam a adolescência infinitamente, por alguma razão. Continuam morando com os pais, não se firmam em relacionamentos que possam virar uma nova família, portam-se como adolescentes no cotidiano de trabalho - rebeldes sem causa e querendo sempre estar satisfeitos.
Na lógica capitalista que rege nosso mundo, somos tratados como consumidores a todo momento. E quem não tem potencial de consumo é simplesmente excluído. O que era uma realidade socioeconômica se estendeu para o comportamento humano.
Não gostou do produto que adquiriu? Descarte ou troque por outro. Logo, logo você será tentado por desejos novos em folha, sempre a última moda. "Por que ser você, se você pode ser novo?", dizia o vilão do filme Robôs. Vivemos uma era de insatisfação permanente, que atinge todas as nossas facetas.
O sexo, os relacionamentos, a política, a economia, o bem-estar... Tudo é alvo de nossa insatisfação, que é devidamente cultivada. Afinal, se estivermos plenamente satisfeitos, qual a razão de continuar consumindo, querendo algo novinho?
"Os políticos são todos corruptos, a democracia não serve, era melhor no tempo da ditadura". É a insatisfação consumista na nossa cidadania. "O negócio é pegar todas, pegar várias, dar pra vários, colecionar performances sexuais". É a lógica predatória da competição capitalista invadindo (e banalizando) nossa sexualidade."Se não der certo, separa; o divórcio é cada vez mais fácil, os filhos se acostumam". É a redução dos compromissos à escravidão da satisfação nunca alcançável.
Nesse contexto é que estão os "adultescentes". O que é o adolescente senão alguém que não gosta de ser contrariado, não tem responsabilidade plena e que adora consumir de tudo, sem freios? Prorrogar a adolescência intere$$a a muita gente. Mas o que me deixa impressionado é que as pessoas estão vivendo dessa maneira, muitas vezes sem sequer sofrer consequências disso.
A geração dos meus pais foi criada sob o signo do esforço. Desde criança tinham que estudar, "ralar muito", trabalhar duro, conquistar as coisas com o fruto do suor deles. Na minha geração, há muitos que nascem no ar condicionado e espereneiam toda vez que sentem um calorzinho, ou quando precisam ter um mínimo de iniciativa.
Não raro as consequencias recaem sobre quem não embarcou nessa "adultescência". E em dobro: sofrem por serem obrigados a conviver com pessoas assim e por terem que arcar com as responsabilidades dos "adultescentes", além das que lhes cabem.
Aí vemos famílias, ambientes de trabalho, grupos de todo o tipo com essa dualidade permanente: gente que encarou o desafio da vida adulta e gente que vai procrastiná-lo o quanto puder. E o pior é quando os "adultescentes" encontram figuras de autoridade que se portam como "papai" e "mamãe", daqueles que relevam tudo o que o filho faz de errado, reforçando a condição.
E quando os filhos dos "adultescentes" chegarem à adolescência? Pode até ser uma vingança, mas não será uma solução.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Gugu-dadá? Já deu, né?
Um país não se constrói com rixas mesquinhas, "dores de corno" e afins. Nossa realidade é muito complexa, os maniqueísmos não dão conta dela. Não adianta aceitarmos a polarização PTxPSDB, religiosos x resto, e tantas outras segregações que incitam ambos os lados à destruição mútua. Afinal, a Guerra Fria já acabou. Vamos requentá-la internamente? Temos um país para seguir construindo, líderes para serem cobrados e fiscalizados.
Precisamos assumir de uma vez por todas o papel de cidadãos, e não o de torcida organizada ou xenófobos do gueto (seja qual for).
Hoje mesmo recebi o email da troca de cartas entre mãe e filha sobre o PT. Pra que enviar isso agora, que não dá mais pra votar? Tortura? E será que a intenção era esclarecer os recebedores do email? Ou tão somente marcar posição, quase na pirraça, reforçando a segregação?
Confesso que estou de saco cheio desse climinha infantil. E lembro das palavras do apóstolo Paulo: "Quando eu era menino, pensava como menino (...). Quando, pois, vim a ser homem, deixei as coisas próprias de menino." Brasileiros, que tal amadurecermos?
Estou impressionado com Paulo Henrique Amorim. O experiente jornalista fala no seu blog como se fosse uma criança de 11 anos. Como disse a Marina Silva, os candidatos e seus porta-vozes infantilizam cada vez mais o eleitor. Taí a guerra nas redes sociais pra provar.
Precisamos assumir de uma vez por todas o papel de cidadãos, e não o de torcida organizada ou xenófobos do gueto (seja qual for).
Hoje mesmo recebi o email da troca de cartas entre mãe e filha sobre o PT. Pra que enviar isso agora, que não dá mais pra votar? Tortura? E será que a intenção era esclarecer os recebedores do email? Ou tão somente marcar posição, quase na pirraça, reforçando a segregação?
Confesso que estou de saco cheio desse climinha infantil. E lembro das palavras do apóstolo Paulo: "Quando eu era menino, pensava como menino (...). Quando, pois, vim a ser homem, deixei as coisas próprias de menino." Brasileiros, que tal amadurecermos?
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Paulo Henrique Amorim,
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