sábado, 19 de março de 2011

Vendi minha alma ao diabinho bilionário



Aqui no Brasil essa onda de redes sociais começou com o Orkut, nem lembro mais quando. Sei que estava na faculdade e um amigo começou a me vender o peixe, ainda sem saber direito como defini-lo, mas deveras empolgado.

Como a curiosidade é a mãe de todas as roubadas, lá fui eu checar que troço era aquele. Mas gostei. Legal retomar o contato com antigos amigos, ou descobrir por meio das comunidades que tinha a mesma opinião que você sobre determinados assuntos.

O Orkut foi evoluindo, ficou mais fácil de mexer. Criei vários álbuns de fotos,  compartilhei com todos os meus amigos virtuais (destes, os amigos mesmo eram poucos), deixei recados e comentei/me diverti nas comunidades.

Aí foram surgindo redes sociais de tudo que é jeito, pra tudo que é utilidade. Nunca embarquei muito. O tempo gasto para administrar cada conta ficava cada vez maior, drama que já vivia no email.

Até que entrei no Facebook, com muito mais usabilidade e navegabilidade do que o Orkut. E com função diferente do Twitter, outra rede social da qual ainda faço parte. Mas cerrei fileiras em torno de um objetivo: só adicionar amigos mesmo, e restringir minha privacidade apenas a quem interessava.


"É que Narciso acha feio o que não é espelho"

Porém, ah porém... Fui ler o artigo "Quero ficar na geração 1.0", de Zadie Smith, contemporânea de Mark Zuckerberg em Harvard. Também já havia assistido "A rede social", que conta a história do Facebook expondo o caráter dúbio de seu criador.

O artigo faz provocações nada polemistas, mas que me fizeram pensar sobre a necessidade de estar tão "antenado" nas redes sociais, como dita a moda da vez. Estamos mesmo estabelecendo conexões com as pessoas? Afinal, o Facebook virou um banco de dados recebidos gratuitamente e vendidos a peso de ouro para anunciantes. Que nos conhecem muito bem, pois botamos nossa vida e nossas opiniões na rede, publicamente.

Levei uma bofetada do artigo quando ele expõe o quão narcisistas somos, e como a decisão de nos expormos em redes sociais comprova isso. Tudo o que sempre quisemos manter reservados ao nosso círculo social agora fazemos questão de dizer ao mundo todo, incluindo desconhecidos. Por que sou tão importante para os outros?

Sem contar o fato que nossas conexões reais podem tender a ficar como as virtuais: superficiais, no senso comum, querendo contato com quem nos elogia, recrudescendo o ódio a quem discorda de nós.

Ainda tem o aspecto do Facebook, conforme bem descrito por Zadie, ser à imagem e semelhança do nerd que o criou. Por que tenho que me adequar a um formato desses, que nada tem a ver comigo? Qual é a utilidade, o propósito?


Emboscada

A autora confessa a dificuldade que foi, diante de reflexões como essa, sair do Facebook. Parece algo intrinsecamente inquestionável: sair de uma rede social. Senti o mesmo quando resolvi me desconectar de lá, após concluir que não fazia mais sentido pra mim.

Encerrei minha conta. Logo em seguida, loguei de novo para checar. Abriu novamente a minha página, tal como era, com a mensagem institucional "Que bom que você voltou!". Minhas fotos, minhas mensagens, tudo ainda estava lá. O Facebook tomou posse de parte da minha vida (o que deveria estar escrito naqueles Termos de Aceite que clicamos logo e nunca lemos).

Ali senti que vendi minha alma. Provavelmente deve acontecer o mesmo no Orkut, onde ainda estou. Perdi minha liberdade de escolha. Uma vez dentro, é lá que você estará sempre, mesmo se dizendo desconectado.

Tudo isso é opressivo demais, orwelliano demais. E dizer "não" ao mundo maravilhoso das redes sociais deve soar antiquado demais, retrógrado demais. Acho que no momento é um rótulo que me conforta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ainda não tenho Facebook (mas quero abrir uma conta...), mas quase não entro na minha página no orkut (pensando bem, pra que então vou abrir uma conta no Face? rs). Li que os pediatras alertam para a “depressão do Facebook”....
Marcia P. L. Bettencourt

Marcos André Lessa disse...

Depressão do Facebook? Essa eu não sabia...