sábado, 19 de novembro de 2011

Um Gre-Nal intelectual

A reação ao vídeo que os atores da Globo fizeram em protesto contra a construção da usina de Belo Monte demonstrou, mais uma vez, a polarização intelectual que vemos no Brasil. Obedecendo a uma lógica simplista e maniqueísta, o debate sobre as mais diversas questões é, antes de mais nada, rotulado. E os defensores estão preferindo ser mais fiéis aos rótulos do que à realidade. O país só perde com esse comportamento infantil.


Pra quem não acompanha futebol, Grêmio e Internacional são os dois principais times do Rio Grande do Sul, e a rivalidade entre as torcidas é marcante e provavelmente a maior do país. O jogo entre as duas equipes é um clássico conhecido como Gre-Nal. Além de ver o seu próprio time vencer, os torcedores querem que o rival afunde sempre que puder.

O Brasil hoje está em clima de Gre-Nal, em decorrência da oposição entre PT-PSDB. Regulação da mídia, ações governamentais, opiniões de artistas... tudo passa por esse filtro. Ninguém pode ter um posicionamento que não esteja necessariamente alinhado com um dos polos. E se o alinhamento não é declarado, é enrustido, e ponto final.

Desde que o governo militar inaugurou Itaipu que se sabe que uma usina hidrelétrica é um desastre ambiental e social em nome do progresso e das necessidades energéticas. Belo Monte segue o mesmo script, e até então ninguém ousava defender a obra com unhas e dentes.

Mas os atores da Globo resolveram se posicionar contra. Aí, quem é contra a Globo (anti-PT e simpática ao PSDB) começou a rebolar pra defender Belo Monte. Teve jornalista usando o Google pra isso, além de inúmeros blogueiros desqualificando o protesto porque eram atores da Globo - logo, tinha algo escuso por trás dessa boa intenção.

Assim, um debate crucial para o presente e o futuro do país, sobre  desenvolvimento sustentável, foi arrastado para o clima de Gre-Nal. E o que ganhamos com essa postura?

(Provavelmente serei acusado/rotulado de defender a Globo ou de ser um tucano enrustido ao falar tudo disso, mas é um risco calculado, fazer o quê?)

Não dá mais pra aguentar um debate intelectual e político tão tacanho como o que a gente vê hoje em dia. Uma infantilidade generalizada que acha que o seu lado só faz coisas certas, e o lado "inimigo" só faz coisas ruins. E pior: que patrulha quem tenta dar uma opinião intermediária (quando a ocasião pede).

Precisamos de maturidade no debate intelectual. Desqualificar o argumentador a priori, ou não ter a humildade de pensar que se pode estar errado não ajuda em nada. É o tipo de atitude que beira a paranoia.

Todo governo, seja de que bandeira for, precisa ser vigiado. Por exemplo: as privatizações nocivas que FHC fez agora são feitas por Dilma nos aeroportos. E aí? Cadê a coerência dos críticos desse tipo de política para criticar agora também?

Já dizia o apóstolo Paulo: "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino".

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
1 Coríntios 13:1
PS: Não quero dizer aqui que os torcedores gaúchos são infantis. Mas comportar-se como torcedor para falar de questões mais sérias do que um jogo de futebol é infantil.

3 comentários:

Anônimo disse...

A questão do vídeo que os caras da Globo fizeram ganharam repercusão porque são atores da Globo. Isso é um fato.

O problema do vídeo é que o texto (e posturas e representações) é raso, pueril em muitos momentos. Além de um tanto mentiroso.

Ainda não sei se sou a favor ou contra Belo Monte (hoje, tendo a concordar com sua construção, mas ainda não é uma opinião definitiva). Mas me dou ao trabalho de ler a respeito, estudar os impactos de verdade, as benesses reais etc etc etc.

É como falar mal do código florestal. É fácil reclamar que vão matar árvores, mas quem foi ler o código de verdade pra entender seu funcionamento?

O cerne, penso eu, é que entre ônus e bônus da internet, a grande maioria das pessoas simplesmente aceitam e repetem o que aquele colunista/escritor/jornalista/blogueiro/ator/etc etc etc. de que gostam muito falou.

Se o 'fulano' falou, tá falado. E como se vive na correria, não preciso saber mais nada.

Infelizmente, o número de grenais só tende a crescer daqui pra frente.

Marcos André Lessa disse...

Boa observação sobre "aceitar e repetir".

Mas o q me deixa p... da vida é: se o governo FHC (do qual sou crítico)estivesse fazendo Belo Monte, os defensores de agora se esmerariam tanto para defender?

Anônimo disse...

Pelo padrão de comportamento geral da turma, é possível ver que há duas categorias básicas envolvidas aí (e não incluo os 'aceitantes' e 'repetidores').

Os que defendem tecnicamente, continuariam defendendo. Com mais ou menos afinco em resposta à oposição.

A oposição é que seria o problema. Pois todo mundo sabe como o PT e sua turma se comportam de maneira geral. São virulentos e violentos.