De tanta picuinha política que vivemos, fica difícil reconhecer atitudes que são acima de qualquer bandeira. Como os Centros Integrados de Educação Pública, os famosos CIEPs, obra de Leonel Brizola gestada pela mente de Darcy Ribeiro, um antropólogo obcecado por educação. Criança tinha que estudar, mas ter todas as condições pra isso (alimentação, lazer, atendimento médico, tudo num só lugar) - ainda mais se não tiver dinheiro pra pagar.
No mesmo governo surgiu a Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos. E, não sei se vocês sabem, mas embaixo das arquibancadas do sambódromo na Marquês de Sapucaí há escolas - que constam do projeto original de Niemeyer, encomendado por Darcy.
Outro expoente da nossa educação é Paulo Freire (que ganhou estátua na Suécia, em escultura que homenageou os grandes pensadores do século XX). Suas pedagogias do Oprimido e da Autonomia são divisores de águas, ensinando o aluno a se constituir por completo, sem dependências de nenhum tipo. Foi (claro!) perseguido pela ditadura por seus ensinos libertadores.
O Brasil tem uma tradição de pensadores (que inspiram homens públicos como Cristovam Buarque) que formataram um modelo de educação para um país que tem riqueza suficiente para bancar isso para seu povo. E um povo com educação de qualidade é um povo autônomo, qualificado e com meio caminho andado para construir um Brasil melhor.
Reclama-se da vontade política dos governantes de hoje em dia, para os quais a educação parece ser um fardo a ser administrado (ou menosprezado diante de outras demandas). Mas o pior mesmo é quando se percebe que a educação pública de qualidade não é um direito exigido nem mesmo pela parcela da população dita esclarecida.
Como hoje a aferição da nossa cidadania passa pelo consumo (se tenho condições de comprar sou alguém, a despeito de outras carências), a educação entrou nessa. Virou negócio. Vide o boom dos colégios e faculdades particulares, cujos donos nada tem a ver com educadores - como o cínico Júlio Lopes, secretário de Transportes (!) do Rio.
E os cidadãos-consumidores detonam o ensino público sem dó nem piedade, e sem lutar por melhorias. Podem pagar por aulas "decentes", e parecem bem ricos. Deduzo isso por sequer se importarem com a educação pública, aceitando serem descontados nos impostos que a sustenta (ou seja, não é gratuita) e aceitando pagar novamente para conseguir o que deveriam ter por direito.
Tampouco se preocupam com quem não pode e não poderá pagar por esse ensino. Admitimos gastos públicos de tudo que é coisa, mas há uma má vontade quando se teima em priorizar a educação. Pergunte ao senador Cristovam o que ele ouve dos "pragmáticos" (que parecem nunca ter estudado na vida)... E você se incomodou quando seu deputado decidiu que os royalties do pré-sal não vão mais pra educação?
Não podemos ser um país continental rico em recursos e pobre em educação. De nada adianta só uma minoria capacitada, vide os problemas com mão de obra e todos os outros advindos de uma instrução deteriorada. Sei que a destruição do ensino público interessa para alguns, mas não pra mim. Nem pra Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Anísio Teixeira ou Cristovam Buarque. E pelo bem dos meus filhos, eu não vou deixá-los clamando sozinhos no deserto.
Veja também: site de Cristovam Buarque
Um comentário:
segui o link sobre o júlio lopes e vi que, em seu próprio site, ele se considera "a cara do rio". rio da impunidade, do descaso com a educação, do loteamento de espaços públicos a grandes empresários... é disso que ri júlio lopes?
nunca achei que sentiria saudades de achar que a cara do rio eram as bocas banguelas na geral do maracanã exibidas nos filmes do canal 100.
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