sexta-feira, 5 de junho de 2015

Água corrente


Já faz algum tempo que nado bem. Aproveitei marés calmas no Arpoador, em Cabo Frio ou em piscinas para comprovar que sabia nadar. Nas aulas de natação aprimorei a técnica, que nunca mais saiu de mim. Parei as aulas, porém continuo seguro para nadar.

Sempre olhei aqueles riachos, sem saber aonde iam dar. Alguns de correnteza indefinida, só caindo neles pra sentir a força, às vezes até a direção. Dava vontade de pular e me deixar levar, ou de nadar conforme a força d’água.

Mas não pulava. E me angustiava no paradoxo de querer pular sem ter garantias ou ficar ali em cima, na pedra, sem sair do lugar, do mesmo ponto de vista, com possibilidades restritas e conhecidas.

Eu já sabia nadar. Aonde vão dar esses riachos?

Ainda por cima, refrescantes. Quando as ondas de calor e altas temperaturas (cada vez mais frequentes) surgiam, o desejo de cair neles era imenso – porém ainda não suplantava o medo.

Medo, medo, medo.

Se o medo tem a sua importância em nosso instinto de sobrevivência, também é protagonista nas limitações de existir. Nunca fui irresponsável ou porra-louca. Nem um pouco, mesmo quando uma pequena dose fosse necessária.

Agonia de vislumbrar novos destinos, sentir-se capaz mas ainda não ter coragem. Fico imaginando os primeiros navegadores. No porto de Lisboa, aquele horizonte, a grande incógnita.

E eu receoso dos riachos. Vez por outra percebia que eles entrecruzavam-se, um se alimentava do outro para complementar sua respectiva vazão. Talvez levassem a um rio maior. E todo rio desemboca... no mar.

A imensidão do mar me maravilhava e me paralisava. Imagine viver o mar aberto. Quantas possibilidades – e perigos, fazia questão de lembrar. Mas que lindo é o mar.

Não dava pra cair direto no mar. Esqueci o mar. Olhei de novo pros riachos.

O medo já não dava mais conta do meu transbordamento. Não caibo mais em mim, preciso sair da pedra! Sentei, com calma. Encostei o dedão na água. Fria, mas nada assustador. Molhei os dois pés. Ah, que sensação boa. Melhor que isso, só pulando.

Pulei.

Me deixei levar um pouco, depois me familiarizei com a temperatura, com a correnteza. Avistei algumas pedras no caminho, desviei obedecendo o curso do riacho. Ele me levou a outro, de outras características, mas vertendo a mesma água.

Logo me vi num rio maior, com a geografia em volta diferente do início (onde era aquela pedra mesmo?).

Sinto que o mar está chegando. Não sei quando e não sei como será quando me deparar com ele.

Enquanto isso, a certeza: não dá pra voltar. Nadar contra a correnteza será cansativo, improdutivo, inútil, impossível. Mas não estou em águas ruins ou maléficas. Estou bem.

Sinto a vazão aumentando ao meu redor, me vestindo com águas mais caudalosas. Sem problemas, nunca fui irresponsável ou porra-louca. Só um pouquinho, pra pular num riacho sem saber aonde ele vai dar.

Mas sei nadar, eu me viro.

Afinal, já pulei, e estou feliz. Curioso pelo que vou encontrar.

Só me resta curtir. 

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