Sempre olhei aqueles riachos, sem saber aonde iam dar. Alguns de
correnteza indefinida, só caindo neles pra sentir a força, às vezes até a
direção. Dava vontade de pular e me deixar levar, ou de nadar conforme a força
d’água.
Mas não pulava. E me angustiava no paradoxo de querer pular sem ter
garantias ou ficar ali em cima, na pedra, sem sair do lugar, do mesmo ponto de
vista, com possibilidades restritas e conhecidas.
Eu já sabia nadar. Aonde vão dar esses riachos?
Ainda por cima, refrescantes. Quando as ondas de calor e altas
temperaturas (cada vez mais frequentes) surgiam, o desejo de cair neles era
imenso – porém ainda não suplantava o medo.
Medo, medo, medo.
Se o medo tem a sua importância em nosso instinto de sobrevivência,
também é protagonista nas limitações de existir. Nunca fui irresponsável ou
porra-louca. Nem um pouco, mesmo quando uma pequena dose fosse necessária.
Agonia de vislumbrar novos destinos, sentir-se capaz mas ainda não ter
coragem. Fico imaginando os primeiros navegadores. No porto de Lisboa, aquele
horizonte, a grande incógnita.
E eu receoso dos riachos. Vez por outra percebia que eles
entrecruzavam-se, um se alimentava do outro para complementar sua respectiva
vazão. Talvez levassem a um rio maior. E todo rio desemboca... no mar.
A imensidão do mar me maravilhava e me paralisava. Imagine viver o mar aberto.
Quantas possibilidades – e perigos, fazia questão de lembrar. Mas que lindo é o
mar.
Não dava pra cair direto no mar. Esqueci o mar. Olhei de novo pros
riachos.
O medo já não dava mais conta do meu transbordamento. Não caibo mais em
mim, preciso sair da pedra! Sentei, com calma. Encostei o dedão na água. Fria,
mas nada assustador. Molhei os dois pés. Ah, que sensação boa. Melhor que isso,
só pulando.
Pulei.
Me deixei levar um pouco, depois me familiarizei com a temperatura, com
a correnteza. Avistei algumas pedras no caminho, desviei obedecendo o curso do
riacho. Ele me levou a outro, de outras características, mas vertendo a mesma
água.
Logo me vi num rio maior, com a geografia em volta diferente do início
(onde era aquela pedra mesmo?).
Sinto que o mar está chegando. Não sei quando e não sei como será
quando me deparar com ele.
Enquanto isso, a certeza: não dá pra voltar. Nadar contra a correnteza
será cansativo, improdutivo, inútil, impossível. Mas não estou em águas ruins
ou maléficas. Estou bem.
Sinto a vazão aumentando ao meu redor, me vestindo com águas mais
caudalosas. Sem problemas, nunca fui irresponsável ou porra-louca. Só um
pouquinho, pra pular num riacho sem saber aonde ele vai dar.
Mas sei nadar, eu me viro.
Afinal, já pulei, e estou feliz. Curioso pelo que vou encontrar.
Só me resta curtir.
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