Não esperava nada do Atlético Nacional, adversário da Chapecoense na final da Copa Sul-Americana. Receberia com simpatia e candura uma nota de pesar, uma ou outra entrevista padrão de jogadores de futebol em momentos como esse.
Eu não estava preparado para o que viria a seguir.
Começou com o clube abrindo mão do título em nome da Chapecoense, ainda que essa decisão não dependesse deles. O motivo? Ajudar as famílias das vítimas, que receberiam então o prêmio em dinheiro. No dia em que ocorreria a final, seus torcedores lotaram o estádio (e seu entorno) da mesma forma, com todas as homenagens que vimos.
Medellín, uma cidade que só conhecíamos pela fama violenta, tendo sido palco e reinado de um traficante que destruiu vidas (e foi "dono" do próprio Atlético Nacional por um tempo), agora entrou no imaginário mundial como a encarnação da empatia e da solidariedade. Uma esperança para habitantes do Rio de Janeiro, como eu.
Uma das mais inesquecíveis e marcantes cenas foi a de dona Ilaídes, mãe do goleiro Danilo, consolando um jornalista mesmo em meio a seu luto pessoal e intransferível. Aquele abraço continha o mesmo DNA de tudo o que ocorria na Colômbia desde o dia seguinte ao acidente. Enquanto isso, atitudes mesquinhas de dirigentes inúteis eram rechaçadas por seus próprios empregados.
"Não é só futebol", dizemos nós que amamos o esporte. Entretanto é ainda além disso. Se alguém um dia gostaria de ver o amor em forma viva, teve uma semana cheia para ser testemunha ocular. Se ainda restasse dúvidas, o nó na garganta e a lágrima contida (ou não) atestariam que tudo aquilo era inacreditavelmente real, com um exemplo atrás do outro, sem conseguirmos nos recuperar completamente do anterior.
A eloquência do amor em forma de chorar junto a quem precisa, em rejeitar a insensibilidade, os ganhos materiais, o egocentrismo; em apoiar incondicionalmente quem precisa se recompor, sufocando todo o ódio em sua própria ineficácia para seguirmos vivendo. Se não for para respirar dia e noite em busca desse amor, promovendo-o sempre que possível, que vida é a que levamos?
Obrigado, Atlético Nacional, por não nos deixar acomodados.
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