"José", também conhecido por seu famoso primeiro verso que vai se repetindo por todo o poema ("E agora, José?"), numa indagação de alguém estupefato diante de tudo o que lhe ocorreu, é uma expressão de nós mesmos. O que fazer, então? Como seguir adiante? A festa acabou, a luz apagou... E por aí vai.
Sempre vi o tal José como alguém desesperado, que tentou tudo o que podia, que sofreu as injustiças da vida, que se deparou com a crueldade, a frustração de expectativas, a impotência ao não conseguir mudar o que é preciso. Há quem veja no poema um apontamento da velhice, de fim dos dias em que não haverá mais tempo para tentar ou sonhar. Mas que jovem não se identificaria com o desamparo do verso invertido com o sentido sublinhado: "José, e agora?".
Mas há alguns dias me perguntei se o tal José não foi um cara arrogante, que achava que tudo sabia e podia e, que zombava dos outros, carregava ódio e deu com os burros n'água. O famoso verso surgiria então como uma ênfase moral: "E agora, José? Tu não é o bonzão? Te vira aí!". Por um momento deixei de me compadecer do tal José, fiquei até com raiva.
Comecei a ler o poema apenas nesse novo sentido, quase que apagando todo o meu histórico com ele. Até me dar conta que isso não passava de uma grande bobagem, um desperdício e, de certa forma, de ignorância. Quem pode domesticar um poema ou pensar que isso é possível?
Assim como o humor, a poesia está aí para nos desarmar, nos espantar, nos desconstruir, nos redimir. É espelho, tição e bálsamo, tudo junto e misturado, sem conseguirmos nos preparar para o que vem por aí diante das páginas com mais espaços em branco do que linhas.
Isso posto, vou deixar o bom velhinho falar por si:
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