Eles estão lá, me olhando. Sempre. Não se movem. Tampouco trocam de lugar uns com os outros, a menos que eu ordene. Mas não o fazem sozinhos, precisam da minha ajuda. Esperam. Compõem toda uma natureza rica e particular à minha disposição. Servis, apesar de tanta sabedoria reunida. Há um tempo certo para nos encontrarmos, finalmente. E esse tempo quase nunca está previsto.
Porém será o tempo certo. É sempre assim. Por vezes chegam na expectativa de interagirmos, mas sossegam conforme minha vontade. Ou não deixam minha cola, de acordo com a necessidade de então. Companheiros seja qual for a hora da convocação.
Como podem, passados cerca de 500 anos, os livros permanecerem em seu formatinho e ainda causarem tudo isso em nós? Tanta tecnologia, tantos acontecimentos no mundo e em nossa vida pessoal, e eles não nos deixam. Não morrem, sequer agonizam.
Minha estante sobrecarregada precisa de uma revisão. Devem estar todos lá mesmo? Talvez não. Mas os que lá estiverem e sobreviverem à limpa, ainda podem aguardar. Quando serão lidos? Já me angustiei com isso, veio a culpa de uma certa "gula cultural" que me condenava por não dar conta do que arranjei pra mim.
Hoje não me angustio. Cada vez mais tenho a certeza de que lemos o que lemos quando temos que ler, por alguma ordenação cósmica. Subitamente há uma confluência de fatores externos e internos a nós que conjuga necessidade e vontade, disposição e conveniência, razão e emoção.
E aí é aquela magia. Aquele alguém que te traz um copo de água fresca quando você nem entendia direito que o que sentia era sede. Um abraço de compaixão e compreensão, um suspiro aliviado. Nenhum arrependimento pela data, enfim, do encontro.
Eles estão lá, me olhando. Sempre. Não se movem. Acho que até sorriem.
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