quinta-feira, 26 de abril de 2007

É o retrato do artista quando mutilado

"A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu/
Oh pedaço de mim, oh metade arrancada de mim"

("Pedaço de Mim", Chico Buarque)

Você pode perder um filho sem ter um filho. Não tenho filhos, pretendo ter. Tudo o que sei sobre o assunto vem de leituras, relatos ouvidos ou acompanhamento pessoal de outros pais e seus filhos.

Logo, sei que um filho quase sempre chega na hora certa, mesmo que na hora não pareça. Independente disso, um filho, desde sua concepção, é cercado de expectativas e especulações. Nele os pais projetam muita coisa (isso pode ser ruim, se mal administrado pelos genitores), aguardam e depois observam seu crescimento, desenvolvimento, amadurecimento. Ver um filho formado ou casando não é apenas um sonho classe média. É a coroação viva de uma criação que, com todas as suas limitações, vê naquele garotão ali uma licença para se orgulhar, é o ápice a ser curtido, o fruto depurado e alçando vôo.

Seu filho pode ser um projeto pessoal ou profissional, uma ocasião que conjugaria em suas execuções resultados há muito buscados por você. Que a partir dela você seria potencializado, suas expectativas se renovariam. O "bom" orgulho chegaria te deixando suspirar pelo que você batalhou anteriormente para que aquele momento pudesse ser do jeito sonhado.

Você pode perder um filho numa bala perdida.

Uma bala perdida é tão estúpida quanto os mesquinhos que possuem uma nesga de poder sobre você. E que são extremamente competentes no exercício desse poder e na refinação de sua mesquinharia cruel e míope.

Você pode ser órfão de filho.

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