quarta-feira, 8 de abril de 2009

Deixa o homem trabalhar

"Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido."

É o que diz a Constituição, e é o que disse o jurista Sobral Pinto num histórico comício na praça da Candelária, Rio de Janeiro, na campanha pelas eleições diretas para presidente. A frase é simples, categórica e não dá margem para interpretações dúbias. É aquilo ali e ponto final.

Cristovam Buarque sabe muito bem disso. E verbalizou a mesma frase emanada por Sobral Pinto de uma maneira muito mais atual e crítica:

"A reação é tão grande hoje contra o Parlamento, que talvez fosse a hora de fazer um plebiscito para saber se o povo quer ou não que o Parlamento continue aberto."

Os tacanhos de plantão já interpretaram as palavras do senador literalmente. Cristovam teve que passar o dia se explicando, dizendo que não propôs tal questão, mas externou de maneira didática e extrema a relação que o povo brasileiro tem com seus ditos representantes.

Vale lembrar que Cristovam é um membro do Parlamento. Não pode sequer ser acusado de legislar em causa própria. Quem conhece seu histórico político também compreendeu a didática, e sabe que ele não quis abortar a democracia pura e simplesmente. Luis Fernando Verissimo já disse que escrever com ironia é perigoso, e por isso ele hoje precisa dizer quando comete uma ironia, para que as pessoas compreendam as entrelinhas como devem.

É chocante como as palavras de Cristovam chocam mais os seus colegas do que os demais desmandos dos parlamentares. Uma casa com milhares de mordomias e cabides de emprego aprovados descaradamente, que suga o dinheiro público mais do que a crise financeira mundial. E vão se ofender com a opinião corajosa de Cristovam Buarque?

Se todo poder emana do povo e deve ser exercido em seu nome, o que fazer quando flagramos diariamente que isso não tem acontecido? Qual a razão de existir um poder constituído se o povo não faz parte dele nem representado?

Logo, Cristovam não cometeu um ato falho. Mas um ato dos mais verdadeiros que já se viu na atual podridão do Senado Federal. A crítica foi tão contundente que nem o eterno golpista Jair Bolsonaro saiu em apoio ao senador do Distrito Federal.

E olha que Cristovam sugeriu um plebiscito, isto é, um instrumento democrático para ouvir a voz do povo de maneira mais prática. Mas quem exerce seus mandatos públicos sem saquear o povo, como o senador, e sabe "tocar na ferida" para criticar os descaminhos do sistema político merece ser ouvido.

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