O cerejão
Frases minhas – semana passada: “eu vou”. Hoje: “eu fui”. Não é Rock in Rio, é a clássica Bienal do Livro 2003. Minha angústia de não poder visitá-la em um fim de semana inteiro (como era meu objetivo) foi suprida por uma ida na quarta-feira mesmo, depois do trabalho. Preparei-me: levei uma roupa mais leve e um tênis pra lá me trocar e aproveitar a feirona do livro mais à vontade.
Assim que cheguei, pensei em dar uma olhada na superlotada Arena Jovem. Desisti. O tema era TV e realidade, com Pedro Bial. Blergh! Guardei os volumes no guarda-volumes e comecei a jornada pelas editoras universitárias. De cara, 2 livros em menos de 10 minutos! Cheguei a me assustar com o que parecia ser um comportamento de comprador compulsivo...
A seguir, o Café Literário, no qual pude apreciar Armando Nogueira palestrando sobre Otto Lara Resende, no tema “Amigos para sempre”. Ótimas histórias, ótimos escritores. Mas um destaque necessário vai para a menina que distribuía as senhas. Ela era linda, linda... Vale a pena ir ao outro lado da face da Terra – o Riocentro – para encontrá-la. Cheguei a inventar uma nova dúvida só pra poder olhar para seu rosto outra vez e ouvir suas belas informações, com muito mais atenção na forma que no conteúdo. Atrasar-me-ei na próxima vez, para ser obrigado a assistir a palestra na TV – que fica ao lado dela...
Mas o meu destaque principal vai mesmo para o stand do Ministério da Educação, que cada vez mais tem a cara do Cristovam Buarque, meu novo super-herói. Como não podia deixar de ser, o tema principal era a campanha para erradicar o analfabetismo em 4 anos (sem pensar em reeleição), capitaneado por um obcecado pela educação de um povo necessitando disso, às vezes sem saber.
Ao lado do stand, uma câmara escura decorada por fora com cartas estilizadas em tamanho gigante. O conteúdo delas era o mesmo: pessoas recém-alfabetizadas escreviam seu primeiro texto na vida, e diziam isso ao destinatário. Comovente, mas há mais. Ao adentrar a câmara escura, um breu e uma narração em voz firme anunciando que, por cinco minutos, viveríamos como 20 milhões de brasileiros. Somos então “levados” a sair de nossa casa, ir até o centro da cidade, procurar emprego e fazer as coisas mais simples do cotidiano, com luzes iluminando fotos de cada ação do tipo. Com a diferença de que todas as indicações (placas, classificados, marcas em geral) estarem escritas ao contrário e adulteradas, impedindo sua leitura. Ao final, somos convidados a deixar nossa assinatura – que não seria outra senão uma impressão digital.
Por cinco minutos fomos levados a perceber que 20 milhões de analfabetos não podem fazer sozinhos coisas simples da vida, como pegar um ônibus ou comprar um remédio. São muito dependentes e, conseqüentemente, explorados. De uma forma ou de outra, humilhados. Ao final recebemos cartilhas e folders sobre o plano para erradicar o analfabetismo no Brasil. Plano que não é apenas para um Governo se virar, tomar os louros pra si e créditos pra eleição. Mas que convoca cada brasileiro leitor, fazendo despertar sua sensibilidade para que a massa de iletrados excluídos possa ao menos ter chance de enxergar um sentido na dura vida que leva. Um sentimento de libertação é urgente para essas pessoas, e cada um de nós é responsável. Não há espaço para desculpas do tipo “nem sabia a que ponto estava”. Como diz o programa do Ministro, são 20 milhões que não sabem ler a própria bandeira (Que Ordem? Que Progresso?).
Por tudo isso, o stand foi o cerejão do bolo da Bienal. E fica a proposta: Cristovam Buarque Ministro da Educação vitalício!
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