domingo, 4 de maio de 2003

E os pimpolhos?

A omissão pode ser mais ativa do que se pensa. A passividade, mais destruidora do que se imagina. Pais e filhos parecem sentir isso a cada geração que passa. O pior é que todos sentem, mas não parecem admitir. Principalmente após a TV ter conquistado seu lugar em nosso cotidiano.

Há pouco li no site www.canaldaimprensa.com.br que "uma estatística das Organizações das Nações Unidas, divulgada em 1998, mostra que a TV brasileira exibe 20 crimes por hora de desenho animado. Esse mapeamento da ONU também diz que, nas seis emissoras abertas, detectam-se 1.432 crimes em uma semana de desenhos animados". É matéria-prima em abundância para que os pais fiquem revoltados e se perguntem: os donos das emissoras de TV aberta gostariam que a programação por eles produzida se dirigisse a seus filhos? Será que realmente a assistem com gosto?

O foco deste artigo não é saber se a violência dos desenhos faz efeitos ou não, nem ser ingênuo de não pensar que os donos de emissoras têm interesses muito além do mero entretenimento. O curioso é observar a chiadeira de pais em relação a essas estatísticas, que isso é um absurdo etc e tal. Legítimo, mas ofuscador muitas vezes.

É fato que preferimos escolher coisas que nos dêem o menor trabalho possível, ou menos esforço precisemos empreender. Mas é maduro compreender que certas coisas que dão trabalho assim têm que ser para termos o fruto seguro ao final do processo. Refiro-me, neste instante, à missão dos pais em educar os filhos e acompanhá-los e, sempre que possível, esclarecê-los sobre valores humanos universais que precisam ser mantidos, ainda que uma maravilhosa TV diga o contrário. E isso dá trabalho.

O ofuscamento do qual falei se encontra aí. Não quero generalizar, mas quando vejo muitos pais reclamando que a TV só tem porcaria etc e tal, logo me pergunto: será que estão fazendo sua parte? Será que a aparente revolta não ofusca uma passividade no acompanhar dos filhos? A TV não tem o apelido de "babá eletrônica" à toa...

Por vezes critico a imprensa neste blog, e o faço tentando ser coerente. Sabendo que um dia serei profissional do ramo e não poderei deixar pra trás tudo o que disse. Não posso chafurdar na crítica e deixar de fazer a minha parte. Os pais precisam ter senso crítico sim, e precisam também ser ativos no cuidar de seus filhos, conversar com eles para que possam discernir que nem tudo (ou, infelizmente, muito pouco) do que aquela caixinha colorida transmite atualmente traz algo de bom. Que seus filhos precisam crescer sem se render à alienação que alienígenas como Xuxa Meneghel tentam empreender a cada aparição no monitor (falo isso como sobrevivente do Xou da Xuxa, graças a Deus e a minha mãe).

O lance é que isso dá trabalho, né? Mas se os pais não assumirem esse esforço, que geração seguinte virá? Que fruto virá ao final do processo? É hora de desprezar o imediatismo reinante sabendo que "longo prazo" não é só jargão.

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