sábado, 17 de maio de 2003

Procurando os tiros

Há filmes que não consigo explicar por que, mas afirmo com certeza que precisam ser vistos por cada habitante do planeta. Filmes que, não sei descrever exatamente como, mexem comigo e invocam – às vezes à força – nossa sensibilidade para que saiamos de nosso mundinho pessoal e percebamos que há uma realidade pulsando a nossa volta. E que estar esclarecido sobre essa realidade faz com que desejemos ser melhores seres humanos.

Tiros em Columbine é um filme assim. Para quem ainda não sabe ou não lembra, foi o documentário que ganhou o Oscar no qual o diretor, Michael Moore fez um ousado discurso contra Bush e os senhores da guerra americanos - sejam eles políticos, militares, artistas ou cidadãos.

O tema principal do filme é a mania de armas dos cidadãos norte-americanos, suas possíveis causas e terríveis conseqüências. Mas aborda a questão em diversos níveis, usando do humor. O melhor é ver pessoas cínicas admitindo seu cinismo diante das câmeras, admitindo o mal que fazem para a sociedade da qual são parte: o produtor do programa “Cops”, uma espécie de “Linha Direta” de muito sucesso nos EUA; Charlton Heston, presidente de honra da Associação Nacional do Rifle que discursa, um dia depois, nas cidades onde crianças e adolescentes mataram colegas e professores de escola. Defendendo as armas! E é encurralado por Michael Moore numa entrevista sensacional. Os políticos que promovem a cultura do medo através da mídia totalmente cooptada e sem o menor compromisso com o que noticiam. Um procedimento bem familiar aos cariocas e brasileiros que ouvem as notícias do Rio.

Não dá pra traduzir o que o filme proporciona. Eu vi há 2 horas e ainda não consigo colocar em palavras o impacto que ele causa. Talvez verbalmente, mas não na escrita. O que gostaria de deixar registrado aqui é a necessidade urgente de dizer aos leitores: vejam esse filme. Vejam, façam um grande favor à sensibilidade e à construção da personalidade de vocês, para que percebam no que podemos nos tornar, o quão responsáveis podemos ser pelos monstros que surgem aqui e acolá. O quão maléfico pode ser a preguiça de pensar. Ou o desprezo pelo papel de cada um como cidadão, eleitor, espectador crítico, leitor atento.

Tiros em Columbine não é apenas um filme. Desculpe o artigo aquém do esperado, mas é preciso que você vá ao cinema para eu poder me comunicar melhor.

Nenhum comentário: