sexta-feira, 28 de março de 2008

Ela ainda mexe com as estruturas

Fiquei curioso quando vi a manchete Lan house é condenada por crime de cliente em SP e cliquei pra ler a matéria. Era isso mesmo: um sujeito usou a rede wireless (sem fio) do cyber café pra acessar a internet e enviar um e-mail ofendendo pessoal e profissionalmente uma administradora de empresas. Como o agressor não utilizou um computador fixo do café, não foi possível localizá-lo. A ofendida resolveu então processar o café, e ganhou.

Deixa ver se eu entendi: a lan house foi considerada culpada por oferecer um serviço a mais para seus clientes? A rede sem fio era pra qualquer um que ali estivesse. Seguindo o raciocínio da administradora e do juiz, acho que vou processar a Vivo pelo trote que meu pai levou semana passada. Meliantes ligaram pra ele dizendo que estavam me seqüestrando, e aparecia "número confidencial" (meu pai resolveu atender por não saber quem era). A Vivo é que ofereceu o serviço de rede permitindo que a má fé anônima ameaçasse meu pai...

O episódio revela como a internet ainda mexe com as estruturas consolidadas de mídia e sociedade de nosso tempo. O que já existe na raça humana é amplificado pelo alcance e potencial da rede, mas no fim botam a culpa na rede! É a velha história de tirar o sofá da sala.

"Considero a decisão muito importante, porque dá mais segurança a todos que usam a internet", afirmou o advogado da administradora, Renato Opice Blum, especialista em Direito da Internet. Será mesmo? Qualquer mal-intencionado poderá acessar uma rede sem fio num cyber café e cometer seus crimes tranqüilamente, pois agora há jurisprudência para se processar o estabelecimento. E estamos resolvidos.

A continuar assim, os cyber cafés podem se sentir inibidos em oferecer o serviço e teremos um retrocesso em matéria de desenvolvimento da comunicação. Aposentaram o computador após a ameaça dos hackers? Não, procurou-se melhorar a segurança e a investigação de crimes pela internet. Diversos exemplos poderiam ser elencados aqui, com o mesmo sentido: em vez de atacar as causas e melhorar a prevenção, prefere-se punir o avanço tecnológico (hoje, a internet é a bola da vez). Endurecem a lei pensando que isso é suficiente para conter os criminosos - outro vício de nossa sociedade.

Não duvido que daqui a um tempo os juízes da nova geração, mais ambientados com as possibilidades da internet (para o bem e para o mal), comecem a rever tais sentenças. A Polícia Federal tem ampliado suas habilidades no combate aos crimes na rede. E os parlamentares e seus serviços jurídicos precisam estar preocupados em legislar para o nosso tempo, sem retrocessos.

Um comentário:

Joice Worm disse...

É uma pena que as pessoas se relacionem desta forma Lessa. É uma pena que o que esteja a contar agora é aquilo que possa "fazer" dinheiro...