segunda-feira, 17 de março de 2008

A novidade velha

Fato da modernidade: passamos mais tempo no trabalho do que em casa, mesmo não sendo viciados nele (os famosos workaholics). Ok, se não é mais tempo, é tanto quanto em casa (desconto as horas de sono, indispensáveis para ambos os ambientes). O certo é que nossos colegas de trabalho convivem conosco como se fossem família. Acompanhamos suas alegrias, dramas e demais episódios do cotidiano tão somente porque somos parte desse cotidiano.

Você tem seus amigos, aqueles que se abrem pra conversar ou com os quais você se sente à vontade para fazer o mesmo; outros são apenas companheiros de papo pro almoço ou pós-rodada de futebol; alguns são apenas de bom-dia/boa-tarde/até-amanhã. No entanto, se algo de diferente, extraordinário, acontece na vida de qualquer um desses, você sabe que aconteceu. E, bem ou mal, você acompanha.

Nos últimos meses, em meio a tantas mudanças em nosso setor, uma colega teve filho, outra engravidou e um descobriu que seria tio. O acontecimento é o mesmo - o nascimento de uma criança - mas as experiências são diferentes. Afinal, as pessoas são diferentes e seus contextos também.

Pois tem sido impossível não acompanhar as impressões de cada um sobre a novidade velha. Captamos as emoções, as reações, as preocupações, as expectativas, as corujices. Somos envolvidos de maneira espontânea, e nos deixamos levar pela felicidade alheia.

Não há nada tão comum quanto o nascer de uma vida. Apenas o fim da vida. Neste o desconhecido nos espera (e talvez por isso tenhamos tanto medo), mas naquele conhecemos bem o que vem por aí - apesar dos pais (e tios) de primeira viagem não concordarem muito... Sabem que vão aprender um caminhão de coisas, por mais que na teoria já tivessem ciência disso e de tantas informações. Uma perspectiva que assusta ao mesmo tempo que enche as veias de coragem pra viver logo, aproveitar logo, se saciar logo.

Mas sabemos que vem por aí uma criança, que nascerá de parto normal ou cesariana, que fará os envolvidos se postarem boquiabertos diante de fato tão corriqueiro da espécie humana. Os nenéns são a crônica encarnada: é o cotidiano enfatizado para descobrirmos a riqueza do que nos cerca. E os colegas de trabalho permanecem de plantão inevitável, sabendo que haverá ainda mais o que dividir subitamente.

4 comentários:

marcelo disse...

gostei do texto. mas pensei bastante no que você disse sobre sabermos o que vem por aí na questão do nascimento. para nascer, o bebê sofre tanto a pressão do imponderável quanto nós na hora de expirarmos. num exercício de imaginação, o bbê poderia até pensar que, no caso dele, também ninguém voltou (ao útero) para contar como é "do outro lado". daí que, a partir do seu texto, a frase dos portais de cemitério "nós que aqui estamos por vós esperamos" assume uma dimensão completamente nova.

Marcos André Lessa disse...

Sim, como se para o nen�m que sai do �tero a vida fosse um terr�vel desconhecido - tanto quanto a morte � para n�s... Mto legal o insight!

Henrique Blecher disse...

A Victoria,com os berros que lançou nos ambientes do hospital Albert Einstein, disse bem como é do lado do útero...Calmo, quente, próximo ao que os bbs talvez elejam como um pequeno paraíso.

Boa Lessa...

Marcos André Lessa disse...

E esse assunto ainda vai render, meu caro. Aguarde...