Faz algum tempo que pra mim o reveillon nada mais é que um dia após o outro. Aquela sensação de recomeço, de expectativas e resoluções para um ano-novo não me afeta. Acredito que passo por muitos "reveillons" em diversos períodos da vida que não obedecem à nossa temporalidade organizada. Mas não nego o valor do calendário para administrar nossos planos e motivações. Assim, excepcionalmente, defini um particular objetivo para 2012: realizar meu Bolsa-Família.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Meu Bolsa-Família
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quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Os cínicos no poder
De novo as barcas. Daqui a pouco serão os trens (de novo), o metrô (de novo), sobrecarregando os extorsivos ônibus (de novo). A população do Rio de Janeiro está cansada desse déja vù. Ainda mais sabendo que é motivado pelo cinismo e por uma agenda oculta das autoridades públicas responsáveis.
sábado, 19 de novembro de 2011
Um Gre-Nal intelectual
A reação ao vídeo que os atores da Globo fizeram em protesto contra a construção da usina de Belo Monte demonstrou, mais uma vez, a polarização intelectual que vemos no Brasil. Obedecendo a uma lógica simplista e maniqueísta, o debate sobre as mais diversas questões é, antes de mais nada, rotulado. E os defensores estão preferindo ser mais fiéis aos rótulos do que à realidade. O país só perde com esse comportamento infantil.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
A maturidade é necessária
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Anti-simplismo
Não gosto de nada simplista: argumentos, pontos de vista, opiniões, raciocínios. Não somos simples, nossos contextos humanos não são simples.
Sem confusão: simplicidade é uma jornada que facilita a nossa existência; simplismo, uma prisão invisível.
Não gosto de me extremar num polo e ali fincar orgulhosamente minha bandeira. Embora não deva servir de atalho ou justificativa para a incoerência ou para o cinismo, a flexibilidade é necessária, com a companhia da humildade.
Não gosto de reduzir discussões políticas ao espírito de um Gre-Nal, ou Fla-Flu das antigas.
Não gosto de rotular e, a partir de então, fechar meus ouvidos para aquele a quem rotulei.
Não gosto de me sentir dono da razão, nem de admirar os que se portam assim.
Não gosto de fundamentalismos de nenhuma ordem. Aliás, o fundamentalismo não é monopólio de nenhum estrato da sociedade.
O simplismo tenta, mas não dá conta da complexidade da nossa existência. E quanto mais insistimos nele, mais regredimos. Da tolerância voltamos ao ódio; do debate, à guerra; da troca de ideias, aos grunhidos e xingamentos.
E tome expectativas frustradas. "Ué, mas me disseram que funcionava assim. O buraco é mais embaixo, então?".
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Raul Seixas constatou o óbvio em forma de música: que não somos minerais, robôs ou animais pra sermos imutáveis, sólidos. A teimosia é sempre irritante, seja qual for o assunto.
Ainda mais se for simplista.
Sem confusão: simplicidade é uma jornada que facilita a nossa existência; simplismo, uma prisão invisível.
Não gosto de me extremar num polo e ali fincar orgulhosamente minha bandeira. Embora não deva servir de atalho ou justificativa para a incoerência ou para o cinismo, a flexibilidade é necessária, com a companhia da humildade.
Não gosto de reduzir discussões políticas ao espírito de um Gre-Nal, ou Fla-Flu das antigas.
Não gosto de rotular e, a partir de então, fechar meus ouvidos para aquele a quem rotulei.
Não gosto de me sentir dono da razão, nem de admirar os que se portam assim.
Não gosto de fundamentalismos de nenhuma ordem. Aliás, o fundamentalismo não é monopólio de nenhum estrato da sociedade.
O simplismo tenta, mas não dá conta da complexidade da nossa existência. E quanto mais insistimos nele, mais regredimos. Da tolerância voltamos ao ódio; do debate, à guerra; da troca de ideias, aos grunhidos e xingamentos.
E tome expectativas frustradas. "Ué, mas me disseram que funcionava assim. O buraco é mais embaixo, então?".
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Raul Seixas constatou o óbvio em forma de música: que não somos minerais, robôs ou animais pra sermos imutáveis, sólidos. A teimosia é sempre irritante, seja qual for o assunto.
Ainda mais se for simplista.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Certamente
Imagem: Jonathan Mak
A morte de Steve Jobs me fez conhecer mais sobre o cara do que em vida. Não é um fenômeno raro, já deve ter acontecido com você. É que só há pouco tempo tenho adentrado com mais afinco e interesse o mundo das tecnologias de comunicação. Aí, ler essa entrevista do hômi (de 1986!) e ver o que o cara fez depois é de cair o queixo.
Quando a notícia da morte foi anunciada por um colega da pós-graduação, a reação de todos foi de um "ah... que pena". Não havia tanta surpresa, já que Jobs sofria de um câncer tão terminal que o fez abrir mão do comando da Apple. Mas era aquilo, todo mundo queria que ele continuasse com suas ideias transformando o nosso mundo e as nossas vidas. (Não me julgue exagerado, se você usa um computador e um celular, deve tributos ao cara).
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quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Indignados: ainda falta
Mundo árabe, Espanha, Chile, Wall Street. São diversas as mobilizações coletivas insatisfeitas com a ordem atual das coisas. Movidos pela juventude e com o suporte da tecnologia móvel e das redes sociais, reúnem-se, gritam, perseveram. Um louvável esforço de quem ainda é rotulado como uma geração alienada ou coisa do tipo.
O que fico pensando ao acompanhar todos esses movimentos é qual deve ser o próximo passo. Ok, conseguimos nos organizar para protestar e sermos ouvidos. Sabemos contra o que nos insurgir. Mas para além da contestação, alguém dessa multidão está pensando na alternativa futura a esse estado de coisas?
domingo, 7 de agosto de 2011
Aulas ao relento
Inspirados nos bombeiros, professores tentam acuar o Governo do Estado do Rio
Um senhor, com os olhos machucados pelo spray de pimenta, era amparado por um rapaz. Ambos estavam no andar da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, aonde chegaram sem planejar. Após caminhar da Rua Primeiro de Março até a Rua da Ajuda, a única coisa que ouviam era o silêncio. A indiferença, que pode ser mais cortante do que o próprio ódio, foi o combustível para ficarem ali. “Foi tudo espontâneo. Quando percebi, estava amparando um professor que me deu aula no ensino médio.”
Marcio Freire era o rapaz. De camisa amarela e calça jeans, cabelo baixo e um olhar cansado, ele explica com paciência porque os professores da rede estadual estão acampados no coração do Centro do Rio. A poucos passos de grandes empresas como Vale, Petrobras e Itaú, da Assembléia Legislativa do Estado (Alerj) e do principal Fórum da capital, experimentam a vida de moradores de rua: dormem na calçada e são ignorados pelos transeuntes.
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domingo, 26 de junho de 2011
Tempo, essa ilusão
Lendo "Dez dias que abalaram o mundo", o relato de John Reed sobre a Revolução Russa de 1917, conhecida como "Revolução de Outubro". Mas por que esse nome se na Rússia tudo aconteceu em novembro? Porque eles seguiam o calendário juliano, criado pelo imperador de mesmo nome. Enquanto no resto do mundo era finzinho de outubro, lá já era novembro.
Até por isso o natal ortodoxo, da vertente do cristianismo que nasceu na Rússia, é comemorado no começo de janeiro. Mas depois da tomada do poder pelos bolcheviques, como o país ia se relacionar com os demais naquele descompasso temporal? Numa canetada, Lênin resolveu: voltemos duas semanas e cá estamos nós, camaradas, no mesmo ritmo do mundo. De um dia pro outro, fevereiro de 1918 passou a ser janeiro e estamos revolucionados.
O terceiro sábado de fevereiro é dia de acabar o horário de verão em boa parte do Brasil - que sempre começa no terceiro sábado de outubro do ano anterior. Orientações para o fim: atrasar o relógio em uma hora. Num apertar de botões, ganhamos de volta a hora de sono que perdemos três meses atrás.
O que é o tempo, hein, gente? Nada. Absolutamente nada. Ou melhor: uma unidade de medida criada para nos escravizar. No máximo.
Já faz dois anos que não consigo encarar o reveillon como a maioria das pessoas. Pra mim, é apenas um dia após o outro. Com a diferença que, a partir dali, tenho que prestar atenção na hora de passar um cheque. Se numa canetada ou num apertar de botões tudo muda, que grande magia ou mistério está no tempo, afinal? Resoluções de ano novo perderam o sentido.
Se eu tivesse que fazer uma classificação, no máximo elencaria "períodos letivos". Do momento que procurava apartamento até encontrar, foi um período; do começo da faculdade até o término, outro. O fato de alguns (ou nem um) anos, meses, dias terem se passado seria mero detalhe. Que diferença essa divisão fez nas minhas sensações?
Ah, faz pro mal. Estou velho demais, já passei da idade, o tempo está passando e eu tô fazendo o quê? O caixa eletrônico é rápido como nunca houve, mas dez segundos na fila são tortura chinesa até conseguir sacar meus dez reais.
Não tenho o hábito de usar relógio de pulso, e hoje esqueci meu celular em casa. Na hora do almoço, resolvi vários problemas, e tive que pedir almoço pra viagem. Uma fila imensa na lanchonete. Porém, nenhum relógio à mão. Poderia perguntar a algum desconhecido "que horas são?", mas pra quê? Pra ficar ansioso, revoltado, inquieto?
O tempo é o senhor da angústia.
Lendo "Dez dias que abalaram o mundo", o relato de John Reed sobre a Revolução Russa de 1917, conhecida como "Revolução de Outubro". Mas por que esse nome se na Rússia tudo aconteceu em novembro? Porque eles seguiam o calendário juliano, criado pelo imperador de mesmo nome. Enquanto no resto do mundo era finzinho de outubro, lá já era novembro.
Até por isso o natal ortodoxo, da vertente do cristianismo que nasceu na Rússia, é comemorado no começo de janeiro. Mas depois da tomada do poder pelos bolcheviques, como o país ia se relacionar com os demais naquele descompasso temporal? Numa canetada, Lênin resolveu: voltemos duas semanas e cá estamos nós, camaradas, no mesmo ritmo do mundo. De um dia pro outro, fevereiro de 1918 passou a ser janeiro e estamos revolucionados.
O terceiro sábado de fevereiro é dia de acabar o horário de verão em boa parte do Brasil - que sempre começa no terceiro sábado de outubro do ano anterior. Orientações para o fim: atrasar o relógio em uma hora. Num apertar de botões, ganhamos de volta a hora de sono que perdemos três meses atrás.
O que é o tempo, hein, gente? Nada. Absolutamente nada. Ou melhor: uma unidade de medida criada para nos escravizar. No máximo.
Já faz dois anos que não consigo encarar o reveillon como a maioria das pessoas. Pra mim, é apenas um dia após o outro. Com a diferença que, a partir dali, tenho que prestar atenção na hora de passar um cheque. Se numa canetada ou num apertar de botões tudo muda, que grande magia ou mistério está no tempo, afinal? Resoluções de ano novo perderam o sentido.
Se eu tivesse que fazer uma classificação, no máximo elencaria "períodos letivos". Do momento que procurava apartamento até encontrar, foi um período; do começo da faculdade até o término, outro. O fato de alguns (ou nem um) anos, meses, dias terem se passado seria mero detalhe. Que diferença essa divisão fez nas minhas sensações?
Ah, faz pro mal. Estou velho demais, já passei da idade, o tempo está passando e eu tô fazendo o quê? O caixa eletrônico é rápido como nunca houve, mas dez segundos na fila são tortura chinesa até conseguir sacar meus dez reais.
Não tenho o hábito de usar relógio de pulso, e hoje esqueci meu celular em casa. Na hora do almoço, resolvi vários problemas, e tive que pedir almoço pra viagem. Uma fila imensa na lanchonete. Porém, nenhum relógio à mão. Poderia perguntar a algum desconhecido "que horas são?", mas pra quê? Pra ficar ansioso, revoltado, inquieto?
O tempo é o senhor da angústia.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Está ao nosso alcance
É comum recebermos por email algum texto demonstrando os abusos que a classe política faz com o dinheiro de nossos impostos. Seja a corrupção impura e simples, os cabides de emprego, as ausências em plenário, o desperdício de verbas. A nós, muitas vezes só resta rosnar e lamentar.
Também ficamos incomodados quando "a mídia" não fala de determinados assuntos, devido aos mais diversos conflitos de interesse, facilitando o trabalho daqueles que preferem um cidadão ignorante, alienado e desinformado sobre as reais motivações de suas carreiras políticas.
Eu gostaria de lhe dizer que estamos a um clique de sair desse lugar de ignorância e de poder decifrar as reais intenções de nossos eleitos, a fim de cobrá-los melhor (ou não cair mais no discurso de alguns): é o site da Transparência Brasil.
Sabe o que você encontra lá? Muita coisa útil que os (maus) políticos não querem que você saiba.
Na seção Excelências, você acompanha o desempenho dos parlamentares: quem falta mais, para quais campanhas eles fizeram doações, quem é citado na Justiça ou no Tribunal de Contas, qual a origem de cada um deles, quem é concessionário de rádio e TV ou dono de escola. Enfim, ali vemos como se dá o conflito de interesses de cada parlamentar na hora dos temas a serem votados, e se estão honrando o mandato presencialmente.
A seção Deu no Jornal é um apanhado de tudo o que saiu em jornais do país sobre os parlamentares, principalmente as acusações que sofreram por desvios de conduta, tanto no mandato como na vida particular.
A seção Às Claras é crucial para desmascararmos os maus políticos: ali está, com todas as letras e valores, as doações que os eleitos receberam para suas campanhas eleitorais. Dá pra saber quem doou quanto e para qual candidato, sendo o doador empresa ou pessoa física. E entender se o eleito "deve favores" a seus financiadores, em vez de servir à população.
(Quer um exemplo? No Rio de Janeiro que sofre com a especulação imobiliária , o governador Sergio Cabral recebeu cerca de R$ 6 milhões de empreiteiras, construtoras e imobiliárias. Sem contar outras empresas que prestam serviços para esse ramo industrial.)
Se você quiser, na seção Meritíssimos ainda é possível acompanhar o ritmo de trabalho dos ministros do STF, cujas decisões afetam a vida política e nossa cidadania plena (vide o desenrolar da lei da Ficha Limpa, do Mensalão etc).
O site ainda possui uma ferramenta em que, a partir de um projeto de lei específico, você pode enviar uma mensagem a todos os deputados de determinado estado, de uma vez só.
Está tudo lá, para que não sejamos mais enganados pela propaganda eleitoral ou pelo silêncio dos que deviam fiscalizar os mandatos. Com o site www.transparencia.org.br, tudo é acessível a apenas um clique.
Munidos dessas informações, temos mais fundamentos para escrever ou ligar para aqueles em quem votamos e fazer uma cobrança contínua, para que não pensem que são intocáveis. Eles morrem de medo se dissermos que não votaremos mais neles na próxima eleição. Vá no site da Câmara ou do Senado, ou da Assembleia Legislativa de seu estado, da Câmara de Vereadores de sua cidade, e pegue o contato deles.
Ah, e muitos parlamentares já estão no Twitter também. Até de alguns cargos executivos, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (@eduardopaes_).
A hora é essa: informe-se, cobre, chantageie com a perda do voto, canalize sua revolta e indignação para a pessoa e o lugar certo. É assim que vamos construir um Brasil melhor e mais decente.
- Adoro eleitores desinformados e apáticos... |
Também ficamos incomodados quando "a mídia" não fala de determinados assuntos, devido aos mais diversos conflitos de interesse, facilitando o trabalho daqueles que preferem um cidadão ignorante, alienado e desinformado sobre as reais motivações de suas carreiras políticas.
Eu gostaria de lhe dizer que estamos a um clique de sair desse lugar de ignorância e de poder decifrar as reais intenções de nossos eleitos, a fim de cobrá-los melhor (ou não cair mais no discurso de alguns): é o site da Transparência Brasil.
Sabe o que você encontra lá? Muita coisa útil que os (maus) políticos não querem que você saiba.
Na seção Excelências, você acompanha o desempenho dos parlamentares: quem falta mais, para quais campanhas eles fizeram doações, quem é citado na Justiça ou no Tribunal de Contas, qual a origem de cada um deles, quem é concessionário de rádio e TV ou dono de escola. Enfim, ali vemos como se dá o conflito de interesses de cada parlamentar na hora dos temas a serem votados, e se estão honrando o mandato presencialmente.
A seção Deu no Jornal é um apanhado de tudo o que saiu em jornais do país sobre os parlamentares, principalmente as acusações que sofreram por desvios de conduta, tanto no mandato como na vida particular.
A seção Às Claras é crucial para desmascararmos os maus políticos: ali está, com todas as letras e valores, as doações que os eleitos receberam para suas campanhas eleitorais. Dá pra saber quem doou quanto e para qual candidato, sendo o doador empresa ou pessoa física. E entender se o eleito "deve favores" a seus financiadores, em vez de servir à população.
(Quer um exemplo? No Rio de Janeiro que sofre com a especulação imobiliária , o governador Sergio Cabral recebeu cerca de R$ 6 milhões de empreiteiras, construtoras e imobiliárias. Sem contar outras empresas que prestam serviços para esse ramo industrial.)
Se você quiser, na seção Meritíssimos ainda é possível acompanhar o ritmo de trabalho dos ministros do STF, cujas decisões afetam a vida política e nossa cidadania plena (vide o desenrolar da lei da Ficha Limpa, do Mensalão etc).
O site ainda possui uma ferramenta em que, a partir de um projeto de lei específico, você pode enviar uma mensagem a todos os deputados de determinado estado, de uma vez só.
Está tudo lá, para que não sejamos mais enganados pela propaganda eleitoral ou pelo silêncio dos que deviam fiscalizar os mandatos. Com o site www.transparencia.org.br, tudo é acessível a apenas um clique.
Munidos dessas informações, temos mais fundamentos para escrever ou ligar para aqueles em quem votamos e fazer uma cobrança contínua, para que não pensem que são intocáveis. Eles morrem de medo se dissermos que não votaremos mais neles na próxima eleição. Vá no site da Câmara ou do Senado, ou da Assembleia Legislativa de seu estado, da Câmara de Vereadores de sua cidade, e pegue o contato deles.
Ah, e muitos parlamentares já estão no Twitter também. Até de alguns cargos executivos, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (@eduardopaes_).
A hora é essa: informe-se, cobre, chantageie com a perda do voto, canalize sua revolta e indignação para a pessoa e o lugar certo. É assim que vamos construir um Brasil melhor e mais decente.
- Transparência??? |
- Céus! |
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quinta-feira, 7 de abril de 2011
Life goes on!
Agora que foi confirmado o show de Paul McCartney no Rio, resolvi contar como foi minha experiência na apresentação de São Paulo, no ano passado. Até então, tinha esperado 20 anos por esse momento.
Explico: em 1990 minha mãe trabalhava na Prefeitura, como assessora de uma secretaria. Quando Paul veio ao Maracanã, ela ganhou ingressos para o show. Eu, que cursava a quarta série do primário e tinha 10 anos, já gostava dos Beatles.
Se outras crianças pediam brinquedos de aniversário ou de Natal, daquela vez pedi pra ir ao show com ela. Três anos antes, passamos um literal aperto ao ver a chegada de Papai Noel no Maraca. E preocupação de mãe às vezes é grande demais: com receio de me levar na muvuca (foram mais de 184 mil espectadores), ela me deixou em casa rangendo os dentes e foi ver seu ídolo da juventude - embora ela preferisse o George.
O episódio virou um folclore na família. Enquanto meu gosto pelos Beatles só aumentava e se refinava, as brincadeiras de que minha mãe tinha me causado um trauma (e que eu nunca a havia perdoado) possuíam um pequeno fundo de verdade. Ela também teria ficado traumatizada posteriormente, cheia de remorso.
No entanto, o tempo passou, hoje sustento minha casa com o suor do meu rosto, sou dimaior e... Paul McCartney resolveu estender sua turnê ao Brasil! Não conseguia acreditar, já que sempre houve boatos de sua vinda, nunca confirmados.
Lá fui eu pra São Paulo, com ingressos comprados pra pista (a maior muvuca, mãe!), sabendo que não haveria nenhum remorso futuro. Só mesmo Paul McCartney para me fazer enfrentar a fila gigantesca no entorno do Morumbi, ficar um total de cinco horas em pé para depois voltar de madrugada ao Rio.
E valeu muito a pena. Grandes sucessos dos Fab Four, do Wings e da carreira solo de Paul, ótima banda, um sonho realizado. Já posso dizer a meus filhos que vi os Beatles ao vivo!
Fico me perguntando se teria ido ao show de 2010 caso tivesse comparecido em 1990. Provavelmente sim, não dá pra comparar as fases de minha vida, com suas correspondentes vivências de Beatles.
Porém de certa forma a negativa materna só acentuou minha disposição em ver Paul McCartney ao vivo de qualquer jeito. E o que é melhor: Macca afirmou que foi o show mais inesquecível do ano, e um dos melhores de sua carreira. E eu estava lá!
A prova de que o perdão não tem nenhum fundo de mentira: adorei gravar, com minha câmera, Paul cantando a música dos Beatles preferida de minha mãe: "Yesterday". E é a primeira canção deles que conheci, provavelmente graças a mamãe.
Ou seja, apesar do show de 1990, o gosto pelos Beatles pode ser creditado a um milagre feito pela santa de casa. É paradoxal: eu teria ficado tão revoltado com minha mãe se ela própria não gostasse dos Fab Four desde antes de eu nascer?
Na ironia que põe fim a qualquer trauma, agora podemos dizer juntos: EU FUI!
Agora que foi confirmado o show de Paul McCartney no Rio, resolvi contar como foi minha experiência na apresentação de São Paulo, no ano passado. Até então, tinha esperado 20 anos por esse momento.
Explico: em 1990 minha mãe trabalhava na Prefeitura, como assessora de uma secretaria. Quando Paul veio ao Maracanã, ela ganhou ingressos para o show. Eu, que cursava a quarta série do primário e tinha 10 anos, já gostava dos Beatles.
Se outras crianças pediam brinquedos de aniversário ou de Natal, daquela vez pedi pra ir ao show com ela. Três anos antes, passamos um literal aperto ao ver a chegada de Papai Noel no Maraca. E preocupação de mãe às vezes é grande demais: com receio de me levar na muvuca (foram mais de 184 mil espectadores), ela me deixou em casa rangendo os dentes e foi ver seu ídolo da juventude - embora ela preferisse o George.
O episódio virou um folclore na família. Enquanto meu gosto pelos Beatles só aumentava e se refinava, as brincadeiras de que minha mãe tinha me causado um trauma (e que eu nunca a havia perdoado) possuíam um pequeno fundo de verdade. Ela também teria ficado traumatizada posteriormente, cheia de remorso.
No entanto, o tempo passou, hoje sustento minha casa com o suor do meu rosto, sou dimaior e... Paul McCartney resolveu estender sua turnê ao Brasil! Não conseguia acreditar, já que sempre houve boatos de sua vinda, nunca confirmados.
Lá fui eu pra São Paulo, com ingressos comprados pra pista (a maior muvuca, mãe!), sabendo que não haveria nenhum remorso futuro. Só mesmo Paul McCartney para me fazer enfrentar a fila gigantesca no entorno do Morumbi, ficar um total de cinco horas em pé para depois voltar de madrugada ao Rio.
E valeu muito a pena. Grandes sucessos dos Fab Four, do Wings e da carreira solo de Paul, ótima banda, um sonho realizado. Já posso dizer a meus filhos que vi os Beatles ao vivo!
Fico me perguntando se teria ido ao show de 2010 caso tivesse comparecido em 1990. Provavelmente sim, não dá pra comparar as fases de minha vida, com suas correspondentes vivências de Beatles.
Porém de certa forma a negativa materna só acentuou minha disposição em ver Paul McCartney ao vivo de qualquer jeito. E o que é melhor: Macca afirmou que foi o show mais inesquecível do ano, e um dos melhores de sua carreira. E eu estava lá!
A prova de que o perdão não tem nenhum fundo de mentira: adorei gravar, com minha câmera, Paul cantando a música dos Beatles preferida de minha mãe: "Yesterday". E é a primeira canção deles que conheci, provavelmente graças a mamãe.
Ou seja, apesar do show de 1990, o gosto pelos Beatles pode ser creditado a um milagre feito pela santa de casa. É paradoxal: eu teria ficado tão revoltado com minha mãe se ela própria não gostasse dos Fab Four desde antes de eu nascer?
Na ironia que põe fim a qualquer trauma, agora podemos dizer juntos: EU FUI!
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sábado, 19 de março de 2011
Vendi minha alma ao diabinho bilionário
Aqui no Brasil essa onda de redes sociais começou com o Orkut, nem lembro mais quando. Sei que estava na faculdade e um amigo começou a me vender o peixe, ainda sem saber direito como defini-lo, mas deveras empolgado.
Como a curiosidade é a mãe de todas as roubadas, lá fui eu checar que troço era aquele. Mas gostei. Legal retomar o contato com antigos amigos, ou descobrir por meio das comunidades que tinha a mesma opinião que você sobre determinados assuntos.
O Orkut foi evoluindo, ficou mais fácil de mexer. Criei vários álbuns de fotos, compartilhei com todos os meus amigos virtuais (destes, os amigos mesmo eram poucos), deixei recados e comentei/me diverti nas comunidades.
Aí foram surgindo redes sociais de tudo que é jeito, pra tudo que é utilidade. Nunca embarquei muito. O tempo gasto para administrar cada conta ficava cada vez maior, drama que já vivia no email.
Até que entrei no Facebook, com muito mais usabilidade e navegabilidade do que o Orkut. E com função diferente do Twitter, outra rede social da qual ainda faço parte. Mas cerrei fileiras em torno de um objetivo: só adicionar amigos mesmo, e restringir minha privacidade apenas a quem interessava.
"É que Narciso acha feio o que não é espelho"
Porém, ah porém... Fui ler o artigo "Quero ficar na geração 1.0", de Zadie Smith, contemporânea de Mark Zuckerberg em Harvard. Também já havia assistido "A rede social", que conta a história do Facebook expondo o caráter dúbio de seu criador.
O artigo faz provocações nada polemistas, mas que me fizeram pensar sobre a necessidade de estar tão "antenado" nas redes sociais, como dita a moda da vez. Estamos mesmo estabelecendo conexões com as pessoas? Afinal, o Facebook virou um banco de dados recebidos gratuitamente e vendidos a peso de ouro para anunciantes. Que nos conhecem muito bem, pois botamos nossa vida e nossas opiniões na rede, publicamente.
Levei uma bofetada do artigo quando ele expõe o quão narcisistas somos, e como a decisão de nos expormos em redes sociais comprova isso. Tudo o que sempre quisemos manter reservados ao nosso círculo social agora fazemos questão de dizer ao mundo todo, incluindo desconhecidos. Por que sou tão importante para os outros?
Sem contar o fato que nossas conexões reais podem tender a ficar como as virtuais: superficiais, no senso comum, querendo contato com quem nos elogia, recrudescendo o ódio a quem discorda de nós.
Ainda tem o aspecto do Facebook, conforme bem descrito por Zadie, ser à imagem e semelhança do nerd que o criou. Por que tenho que me adequar a um formato desses, que nada tem a ver comigo? Qual é a utilidade, o propósito?
Emboscada
A autora confessa a dificuldade que foi, diante de reflexões como essa, sair do Facebook. Parece algo intrinsecamente inquestionável: sair de uma rede social. Senti o mesmo quando resolvi me desconectar de lá, após concluir que não fazia mais sentido pra mim.
Encerrei minha conta. Logo em seguida, loguei de novo para checar. Abriu novamente a minha página, tal como era, com a mensagem institucional "Que bom que você voltou!". Minhas fotos, minhas mensagens, tudo ainda estava lá. O Facebook tomou posse de parte da minha vida (o que deveria estar escrito naqueles Termos de Aceite que clicamos logo e nunca lemos).
Ali senti que vendi minha alma. Provavelmente deve acontecer o mesmo no Orkut, onde ainda estou. Perdi minha liberdade de escolha. Uma vez dentro, é lá que você estará sempre, mesmo se dizendo desconectado.
Tudo isso é opressivo demais, orwelliano demais. E dizer "não" ao mundo maravilhoso das redes sociais deve soar antiquado demais, retrógrado demais. Acho que no momento é um rótulo que me conforta.
Aqui no Brasil essa onda de redes sociais começou com o Orkut, nem lembro mais quando. Sei que estava na faculdade e um amigo começou a me vender o peixe, ainda sem saber direito como defini-lo, mas deveras empolgado.
Como a curiosidade é a mãe de todas as roubadas, lá fui eu checar que troço era aquele. Mas gostei. Legal retomar o contato com antigos amigos, ou descobrir por meio das comunidades que tinha a mesma opinião que você sobre determinados assuntos.
O Orkut foi evoluindo, ficou mais fácil de mexer. Criei vários álbuns de fotos, compartilhei com todos os meus amigos virtuais (destes, os amigos mesmo eram poucos), deixei recados e comentei/me diverti nas comunidades.
Aí foram surgindo redes sociais de tudo que é jeito, pra tudo que é utilidade. Nunca embarquei muito. O tempo gasto para administrar cada conta ficava cada vez maior, drama que já vivia no email.
Até que entrei no Facebook, com muito mais usabilidade e navegabilidade do que o Orkut. E com função diferente do Twitter, outra rede social da qual ainda faço parte. Mas cerrei fileiras em torno de um objetivo: só adicionar amigos mesmo, e restringir minha privacidade apenas a quem interessava.
"É que Narciso acha feio o que não é espelho"
Porém, ah porém... Fui ler o artigo "Quero ficar na geração 1.0", de Zadie Smith, contemporânea de Mark Zuckerberg em Harvard. Também já havia assistido "A rede social", que conta a história do Facebook expondo o caráter dúbio de seu criador.
O artigo faz provocações nada polemistas, mas que me fizeram pensar sobre a necessidade de estar tão "antenado" nas redes sociais, como dita a moda da vez. Estamos mesmo estabelecendo conexões com as pessoas? Afinal, o Facebook virou um banco de dados recebidos gratuitamente e vendidos a peso de ouro para anunciantes. Que nos conhecem muito bem, pois botamos nossa vida e nossas opiniões na rede, publicamente.
Levei uma bofetada do artigo quando ele expõe o quão narcisistas somos, e como a decisão de nos expormos em redes sociais comprova isso. Tudo o que sempre quisemos manter reservados ao nosso círculo social agora fazemos questão de dizer ao mundo todo, incluindo desconhecidos. Por que sou tão importante para os outros?
Sem contar o fato que nossas conexões reais podem tender a ficar como as virtuais: superficiais, no senso comum, querendo contato com quem nos elogia, recrudescendo o ódio a quem discorda de nós.
Ainda tem o aspecto do Facebook, conforme bem descrito por Zadie, ser à imagem e semelhança do nerd que o criou. Por que tenho que me adequar a um formato desses, que nada tem a ver comigo? Qual é a utilidade, o propósito?
Emboscada
A autora confessa a dificuldade que foi, diante de reflexões como essa, sair do Facebook. Parece algo intrinsecamente inquestionável: sair de uma rede social. Senti o mesmo quando resolvi me desconectar de lá, após concluir que não fazia mais sentido pra mim.
Encerrei minha conta. Logo em seguida, loguei de novo para checar. Abriu novamente a minha página, tal como era, com a mensagem institucional "Que bom que você voltou!". Minhas fotos, minhas mensagens, tudo ainda estava lá. O Facebook tomou posse de parte da minha vida (o que deveria estar escrito naqueles Termos de Aceite que clicamos logo e nunca lemos).
Ali senti que vendi minha alma. Provavelmente deve acontecer o mesmo no Orkut, onde ainda estou. Perdi minha liberdade de escolha. Uma vez dentro, é lá que você estará sempre, mesmo se dizendo desconectado.
Tudo isso é opressivo demais, orwelliano demais. E dizer "não" ao mundo maravilhoso das redes sociais deve soar antiquado demais, retrógrado demais. Acho que no momento é um rótulo que me conforta.
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sexta-feira, 18 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
E disse Deus
Diante de mais um desastre natural, dessa vez no Japão, surge o sentimento de choque com as consequências para a raça humana. Quase que simultaneamente, a pergunta (que, dependendo da crença pessoal de cada um, pode vir em tom acusatório ou desolado): por que Deus permitiu isso?
Bom, a natureza e seus fenômenos estão aí desde sempre. Dinossauros podem ter sido extintos por um deles, a cidade de Pompéia sumiu debaixo da lava de um vulcão, terremotos, tornados, tsunamis não são mais acontecimentos inéditos.
Como bem definido por um amigo meu, só é catastrófe porque nós, humanos, estamos no meio do caminho. O problema - como apontado pelo jornal Extra - é que ainda temos a ilusão de controle.
Dessa vez a tragédia não aconteceu numa periferia do mundo, como Tailândia ou Bangladesh. Foi numa das maiores potências. Famosa, vejam só, pela capacidade de criar tudo que é tecnologia que ajude o homem a pensar que está no comando. Por que Deus é tão irônico?
Os que creem nesse Deus aproveitam a oportunidade para tripudiar dos céticos materialistas.
Os céticos materialistas aproveitam a oportunidade para constranger os que creem nesse Deus que permite tudo isso.
Tô fora de ambas as correntes, mas concordo com o Extra.
Uma tragédia dessas proporções não nos apequena, apenas nos devolve à nossa real condição. Um tsunami é uma auto-análise forçada, porém necessária. Quebra o encanto.
Um desastre nacional, com repercussão mundial, mostra que diante da natureza (ou de Deus?) não há classe social, acúmulo de riquezas, VIPs, segurança total e absoluta.
Somos absurdamente iguais uns aos outros. Uma só raça, a humana. A frágil e marrenta raça humana.
Diante de mais um desastre natural, dessa vez no Japão, surge o sentimento de choque com as consequências para a raça humana. Quase que simultaneamente, a pergunta (que, dependendo da crença pessoal de cada um, pode vir em tom acusatório ou desolado): por que Deus permitiu isso?
Bom, a natureza e seus fenômenos estão aí desde sempre. Dinossauros podem ter sido extintos por um deles, a cidade de Pompéia sumiu debaixo da lava de um vulcão, terremotos, tornados, tsunamis não são mais acontecimentos inéditos.
Como bem definido por um amigo meu, só é catastrófe porque nós, humanos, estamos no meio do caminho. O problema - como apontado pelo jornal Extra - é que ainda temos a ilusão de controle.
Dessa vez a tragédia não aconteceu numa periferia do mundo, como Tailândia ou Bangladesh. Foi numa das maiores potências. Famosa, vejam só, pela capacidade de criar tudo que é tecnologia que ajude o homem a pensar que está no comando. Por que Deus é tão irônico?
Os que creem nesse Deus aproveitam a oportunidade para tripudiar dos céticos materialistas.
Os céticos materialistas aproveitam a oportunidade para constranger os que creem nesse Deus que permite tudo isso.
Tô fora de ambas as correntes, mas concordo com o Extra.
Uma tragédia dessas proporções não nos apequena, apenas nos devolve à nossa real condição. Um tsunami é uma auto-análise forçada, porém necessária. Quebra o encanto.
Um desastre nacional, com repercussão mundial, mostra que diante da natureza (ou de Deus?) não há classe social, acúmulo de riquezas, VIPs, segurança total e absoluta.
Somos absurdamente iguais uns aos outros. Uma só raça, a humana. A frágil e marrenta raça humana.
segunda-feira, 14 de março de 2011
RJTV, acertos e erros (*)
Já faz algum tempo que o RJTV, noticiário local da Globo para o Rio de Janeiro, vem mudando seu formato. Começou como o clássico telejornal, com o apresentador lendo as notícias tendo ao fundo um cenário estático. Depois passou para uma bancada, com links ao vivo e entrevistas no estúdio. Agora conta com linguagem e ambientes informais, além de comentaristas fixos sobre assuntos da cobertura.
O perfil do jornal mudou quando Márcio Gomes e Ana Paula Araújo assumiram a bancada. Além do anúncio das notícias, o telespectador presenciava links ao vivo entre cidadãos apresentando suas queixas e as autoridades responsáveis. Ou com os apresentadores inquirindo os governantes (dentro dos limites do oligopólio midiático brasileiro), sem edição. A prática, ainda que em menor escala, ainda acontece hoje, às vezes com a autoridade no próprio estúdio.
Foi nessa época também que o RJTV diversificou sua audiência: na tela da Globo, lugares além da Zona Sul (e até da Baixada Fluminense) começaram a ter seus problemas relatados. O jornal desenvolvia uma importante característica que ainda não abandonou: prestar serviço público por meio das denúncias da falta de serviços públicos.
Tal prática mostra-se útil tanto para os cidadãos como para os repórteres, que em sua ampla maioria são oriundos da classe média. Isto é, provavelmente nunca pisaram em lugares como Queimados ou Austin, tampouco tiveram contato com pessoas que vivem à margem do espectro de consumo que define nossa cidadania atual. A sensibilidade do jornalista é, no mínimo, estimulada para além do seu mundo.
Qual o valor informativo?
A prática que sintetiza o maior mérito do RJTV, desde sua mudança de perfil, é quando a reportagem está no local da denúncia, relatando o problema lado a lado com os moradores e a autoridade. Esta, por sua vez, é instada a dizer, ao vivo, qual o prazo para resolver o problema. O repórter marca a data futura num calendário (que também fica com os moradores) e se compromete a voltar ao local para ver se a promessa foi cumprida. E volta.Num tempo em que o jornalismo declaratório e de "encher prateleiras" de notícias não acompanha o desenrolar das denúncias, a prática acima citada do RJTV merece ser elogiada.
O formato atual, mais informal, é fruto de uma perda de audiência para outra atração de mesmo horário, o popularesco programa de Wagner Montes. O jeito "mais à vontade" de apresentadores e entrevistados, dispensando até mesmo a bancada, aproxima o jornal dos telespectadores.
Mas é aí também que reside o risco do sensacionalismo, no qual o RJTV vem caindo ultimamente. Quando um acidente entre um carro e uma moto na Avenida Brasil matou algumas pessoas, no dia seguinte (!!!) estavam no estúdio os pais das respectivas vítimas. Não faltou sequer a pergunta terrível, porém previsível: "Como o senhor está se sentindo?" Em seguida às óbvias lamentações, o choro compulsivo ao vivo, Ana Paula Araújo põe a mão no braço do entrevistado, diz "Nós entendemos" e passa ao pai da segunda vítima, para que este também dê seu depoimento. Qual o valor informativo disso? Já o de captar audiência...
Sensacionalismo é mais fácil e tentador
O mesmo vale para o cruel episódio da menina Lavínia, aparentemente assassinada pela amante de seu pai em Duque de Caxias. Como era de se esperar, nos tabloides está a imensa foto com o rosto da suspeita (embora, como sempre, tratada como culpada e condenada), com os usuais tratamentos de "monstro" e "fera" da Baixada e os detalhes das horas finais da criança.
Porém, o RJTV de 03/03/2011, em toda a sua potência audiovisual, reproduziu a mesma lógica. O único assunto da edição, praticamente, foi a morte de Lavínia. As imagens da acusada chegando à delegacia e aguardando para depor eram repetidas, até em câmera lenta, para ilustrar os comentários de Rodrigo Pimentel. O velório de Lavínia foi acompanhado pela reportagem. A diretora da escola onde a menina estudava, assim como a professora da turma, foram entrevistadas. Uma vez mais: qual o valor informativo?
Os editores do RJTV deveriam fazer o exercício a que este Observatório está acostumado: analisar seu trabalho e pensar se o caminho é mesmo esse. O RJTV é o noticiário com mais chances de fazer um bom jornalismo continuado, com olhares diversificados, mesmo dentro das Organizações Globo. Sua história recente comprova isso, inclusive com garantia de audiência. Faz jornalismo popular respeitando os populares.
O sensacionalismo sempre será um caminho mais fácil e tentador. Mas nunca vai contribuir para a prestação de serviço público ou para a construção da cidadania. É uma questão de escolha para Ana Paula Araújo e companhia.
(*) Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa
Já faz algum tempo que o RJTV, noticiário local da Globo para o Rio de Janeiro, vem mudando seu formato. Começou como o clássico telejornal, com o apresentador lendo as notícias tendo ao fundo um cenário estático. Depois passou para uma bancada, com links ao vivo e entrevistas no estúdio. Agora conta com linguagem e ambientes informais, além de comentaristas fixos sobre assuntos da cobertura.
O perfil do jornal mudou quando Márcio Gomes e Ana Paula Araújo assumiram a bancada. Além do anúncio das notícias, o telespectador presenciava links ao vivo entre cidadãos apresentando suas queixas e as autoridades responsáveis. Ou com os apresentadores inquirindo os governantes (dentro dos limites do oligopólio midiático brasileiro), sem edição. A prática, ainda que em menor escala, ainda acontece hoje, às vezes com a autoridade no próprio estúdio.
Foi nessa época também que o RJTV diversificou sua audiência: na tela da Globo, lugares além da Zona Sul (e até da Baixada Fluminense) começaram a ter seus problemas relatados. O jornal desenvolvia uma importante característica que ainda não abandonou: prestar serviço público por meio das denúncias da falta de serviços públicos.
Tal prática mostra-se útil tanto para os cidadãos como para os repórteres, que em sua ampla maioria são oriundos da classe média. Isto é, provavelmente nunca pisaram em lugares como Queimados ou Austin, tampouco tiveram contato com pessoas que vivem à margem do espectro de consumo que define nossa cidadania atual. A sensibilidade do jornalista é, no mínimo, estimulada para além do seu mundo.
Qual o valor informativo?
A prática que sintetiza o maior mérito do RJTV, desde sua mudança de perfil, é quando a reportagem está no local da denúncia, relatando o problema lado a lado com os moradores e a autoridade. Esta, por sua vez, é instada a dizer, ao vivo, qual o prazo para resolver o problema. O repórter marca a data futura num calendário (que também fica com os moradores) e se compromete a voltar ao local para ver se a promessa foi cumprida. E volta.Num tempo em que o jornalismo declaratório e de "encher prateleiras" de notícias não acompanha o desenrolar das denúncias, a prática acima citada do RJTV merece ser elogiada.
O formato atual, mais informal, é fruto de uma perda de audiência para outra atração de mesmo horário, o popularesco programa de Wagner Montes. O jeito "mais à vontade" de apresentadores e entrevistados, dispensando até mesmo a bancada, aproxima o jornal dos telespectadores.
Mas é aí também que reside o risco do sensacionalismo, no qual o RJTV vem caindo ultimamente. Quando um acidente entre um carro e uma moto na Avenida Brasil matou algumas pessoas, no dia seguinte (!!!) estavam no estúdio os pais das respectivas vítimas. Não faltou sequer a pergunta terrível, porém previsível: "Como o senhor está se sentindo?" Em seguida às óbvias lamentações, o choro compulsivo ao vivo, Ana Paula Araújo põe a mão no braço do entrevistado, diz "Nós entendemos" e passa ao pai da segunda vítima, para que este também dê seu depoimento. Qual o valor informativo disso? Já o de captar audiência...
Sensacionalismo é mais fácil e tentador
O mesmo vale para o cruel episódio da menina Lavínia, aparentemente assassinada pela amante de seu pai em Duque de Caxias. Como era de se esperar, nos tabloides está a imensa foto com o rosto da suspeita (embora, como sempre, tratada como culpada e condenada), com os usuais tratamentos de "monstro" e "fera" da Baixada e os detalhes das horas finais da criança.
Porém, o RJTV de 03/03/2011, em toda a sua potência audiovisual, reproduziu a mesma lógica. O único assunto da edição, praticamente, foi a morte de Lavínia. As imagens da acusada chegando à delegacia e aguardando para depor eram repetidas, até em câmera lenta, para ilustrar os comentários de Rodrigo Pimentel. O velório de Lavínia foi acompanhado pela reportagem. A diretora da escola onde a menina estudava, assim como a professora da turma, foram entrevistadas. Uma vez mais: qual o valor informativo?
Os editores do RJTV deveriam fazer o exercício a que este Observatório está acostumado: analisar seu trabalho e pensar se o caminho é mesmo esse. O RJTV é o noticiário com mais chances de fazer um bom jornalismo continuado, com olhares diversificados, mesmo dentro das Organizações Globo. Sua história recente comprova isso, inclusive com garantia de audiência. Faz jornalismo popular respeitando os populares.
O sensacionalismo sempre será um caminho mais fácil e tentador. Mas nunca vai contribuir para a prestação de serviço público ou para a construção da cidadania. É uma questão de escolha para Ana Paula Araújo e companhia.
(*) Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa
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terça-feira, 1 de março de 2011
Shakespeare tem razão
Estou cansado da marcação cerrada em cima do deputado federal e palhaço Tiririca. Ótimas capas de jornal são feitas, a revolta popular é requentada, mas acredito que somos palhaços (no mau sentido) por outros motivos.
O bode expiatório é conveniente, sempre foi, e agora não está sendo diferente. Bater no lado mais fraco idem. Ou seja, culpemos (e malhemos) Tiririca e seus eleitores a torto e a direito, esquecendo-nos (?) dos reais orquestradores de todo esse novo circo.
Que tal falarmos do sistema de votação, que permite a um candidato eleger outros tantos, mesmo que tenham conseguido míseros votos? É justo isso, esse tal de quociente eleitoral? Se um cara não consegue votos nem pra vereador por quem o quis, por que meu voto em outro deve arregimentá-lo a um mandato contra a minha vontade? Tiririca, com seu milhão de votos, levou mais quatro do Partido da República (PR).
A reforma política é entoada por tudo que é postulante ao cargo de presidente e de parlamentar. Está na pauta da reforma a questão do quociente eleitoral?
Isso nos leva a outra questão: por que o PR aceitou Tiririca como candidato? Obviamente, pensando no quociente eleitoral e em ter mais um joguete nada questionador nas votações do Congresso. Se o palhaço conseguiu ser eleito, precisou de uma legenda para isso. Qual o programa que rege os ideais do PR? Seus candidatos identificam-se com ele para se filiarem?
Agora perseguem Tiririca porque ele vai participar da Comissão de Educação e Cultura. Sendo artista de circo, imagino que vá lutar pelos interesses da classe. Logo, tem que participar da Comissão que trata do tema. Logo, Comissão de Educação e Cultura. Ele não está lá pela Educação, embora esse seja o gancho tentador de todos os jornais.
Por que não aplicar a mesma revolta com outros parlamentares? Vamos olhar a Comissão de Constituição e Justiça: há deputados com (no mínimo) ficha limpa para legislar sobre a questão? Nas discussões sobre concessão de rádio e TV, que não podem ser destinadas a parlamentares: estão legislando em causa própria? Podem fazer isso?
Na fiscalização dos gastos com a Copa 2014: vão ser benevolentes com os desmandos da falta de licitação, da chantagem dos doadores de suas milionárias campanhas a parlamentares, como as todo-poderosas empreiteiras?
Se nada disso acontece, se estamos gastando a nossa indignação com um palhaço semi-analfabeto que vai ser só mais um, e não com os manda-chuvas que se perpetuam no poder espertamente... Então Shakespeare tem razão: "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia". Ou a nossa vã (e conveniente) ingenuidade.
Estou cansado da marcação cerrada em cima do deputado federal e palhaço Tiririca. Ótimas capas de jornal são feitas, a revolta popular é requentada, mas acredito que somos palhaços (no mau sentido) por outros motivos.
O bode expiatório é conveniente, sempre foi, e agora não está sendo diferente. Bater no lado mais fraco idem. Ou seja, culpemos (e malhemos) Tiririca e seus eleitores a torto e a direito, esquecendo-nos (?) dos reais orquestradores de todo esse novo circo.
Que tal falarmos do sistema de votação, que permite a um candidato eleger outros tantos, mesmo que tenham conseguido míseros votos? É justo isso, esse tal de quociente eleitoral? Se um cara não consegue votos nem pra vereador por quem o quis, por que meu voto em outro deve arregimentá-lo a um mandato contra a minha vontade? Tiririca, com seu milhão de votos, levou mais quatro do Partido da República (PR).
A reforma política é entoada por tudo que é postulante ao cargo de presidente e de parlamentar. Está na pauta da reforma a questão do quociente eleitoral?
Isso nos leva a outra questão: por que o PR aceitou Tiririca como candidato? Obviamente, pensando no quociente eleitoral e em ter mais um joguete nada questionador nas votações do Congresso. Se o palhaço conseguiu ser eleito, precisou de uma legenda para isso. Qual o programa que rege os ideais do PR? Seus candidatos identificam-se com ele para se filiarem?
Agora perseguem Tiririca porque ele vai participar da Comissão de Educação e Cultura. Sendo artista de circo, imagino que vá lutar pelos interesses da classe. Logo, tem que participar da Comissão que trata do tema. Logo, Comissão de Educação e Cultura. Ele não está lá pela Educação, embora esse seja o gancho tentador de todos os jornais.
Por que não aplicar a mesma revolta com outros parlamentares? Vamos olhar a Comissão de Constituição e Justiça: há deputados com (no mínimo) ficha limpa para legislar sobre a questão? Nas discussões sobre concessão de rádio e TV, que não podem ser destinadas a parlamentares: estão legislando em causa própria? Podem fazer isso?
Na fiscalização dos gastos com a Copa 2014: vão ser benevolentes com os desmandos da falta de licitação, da chantagem dos doadores de suas milionárias campanhas a parlamentares, como as todo-poderosas empreiteiras?
Se nada disso acontece, se estamos gastando a nossa indignação com um palhaço semi-analfabeto que vai ser só mais um, e não com os manda-chuvas que se perpetuam no poder espertamente... Então Shakespeare tem razão: "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia". Ou a nossa vã (e conveniente) ingenuidade.
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