domingo, 3 de agosto de 2003

A esperança morre se não tiver boca-a-boca da iniciativa

Chegou. Olhou. Criou expectativa. Com ela, a esperança. O processo de mudança interna pelo qual passava parecia dar seus primeiros frutos. Tomar a iniciativa parecia ser uma tarefa mais fácil, mesmo que fosse apenas por um olhar. Para sua surpresa, um olhar que encontrou reciprocidade, amabilidade. Uma boa noite à vista.

O lugar enchendo de gente e a direção do olhar garantida entre ele e ela. Os amigos à volta de cada um, mesas diferentes. Os risos, as piadas, os parabéns, a boa noite enriquecendo sua promessa. Outro olhar, dessa vez mais longo. Contudo, ele sem saber direito o que fazer, por um motivo terrível: medo.

Medo de que alguém perceba o flerte à distância e atrapalhe seus discretos planos. Primeiro esse contato visual, depois puxar assunto. Mas o medo da audiência o petrificava. Após um terceiro olhar, não sabia mais o que fazer. Até sabia, poderia chegar mais perto, mas tinha medo. Medo de o "zoarem", medo da opinião dos outros.

Sentia-se ridículo por perceber que se importava tanto com o que os outros poderiam dizer ou fazer a respeito. Parecia não ter personalidade para ignorar os que nada tinham a ver com isso e ir direto à resposta de seus anseios naquela noite. Tal inércia o fazia sentir-se ainda pior.

O tempo foi passando e as expectativas se resumiram a um contato posterior, mascarado talvez pela capa da internet - o que com certeza lhe daria mais segurança nas palavras, no agir. E o melhor: sem audiência.

As mesas esvaziaram-se, chegou mais perto, sentou em frente. Ela virada de costas, falando com alguém. Inexplicavelmente, todo o seu jeito extrovertido, seu amplo vocabulário e sua habilidade com as palavras o boicotavam. Completamente mudo, sabendo que precisava (e podia) dizer alguma coisa. Qualquer coisa! Fale! Fale!

Nada. Medo.

Sentiu vergonha de ter medo.

(A internet. Ali é mais fácil. O pouco contato pessoal aprofundado pela rede. É isso. Só isso. Tem que ser isso.)

Outro chegou e sentou junto. Ela imediatamente virou-se. O outro era tudo o que ele tinha que ser até então. Mas agora era tarde. Foi-se a chance, dissiparam-se os olhares. A boa noite havia acabado sem ter nascido. Aborto espontâneo.

De sobra, o martírio de presenciar a chance perdida, as expectativas agonizando sofregamente, a esperança morrendo. A internet não conseguiria dar conta de tantos reveses.

Sentiu-se derrotado. Fracassado. Perdeu feio pro medo, perdeu feio pra si mesmo. A iniciativa não aparecera conforme tudo levava a crer. Perdeu, momentaneamente, a capacidade de crer.

Ao final, um "tchau" simples, seco, sóbrio. Nada a ver com os primeiros olhares.

É difícil levantar a cabeça após o quase.

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